Fonte: Tribuna do Norte
Yuno Silva
Repórter
Repórter
Mãe de dois meninos em idade escolar, Maria Magna de Oliveira, de 32
anos, doméstica, moradora do Vale Dourado, bairro da zona Norte de
Natal, precisa providenciar a carteira de identidade de ambos para
efetuar a matrícula dos filhos na rede pública de ensino. Ela, o marido e
os meninos são os primeiros da fila da Central do Cidadão da Zona
Norte. São 5h45 de quinta (12), essa é a quarta tentativa de buscar
atendimento, que só está garantido por que a família resolveu acampar na
porta do prédio onde funciona a Central, na Av. Dr. João Medeiros Filho
número 2.300, às 17h do dia anterior.
Magnus Nascimento
Às
6h50 de ontem (12), mais de 500 pessoas se aglomeravam na calçada em
frente à Central do Alecrim, disputando uma das 190 senhas que seriam
distribuídas às 7h
Das 40 fichas disponíveis para emissão de RG (1ª, 2ª e 3ª vias), Magna
receberá duas, que serão distribuídas às 7h – ela só será atendida a
partir das 8h. Ela não trouxe colchão, mas os mais precavidos trouxeram
colchão, lençol, travesseiro e cadeira de praia. Todos dormiram ao
relento, sentados no batente do canteiro sem plantas ou no chão, e se
chover não tem escapatória. Com o raiar do dia, ambulantes oferecem bolo
e café preto para o desjejum dos acampados.
“É um absurdo essa situação, um absurdo,
uma humilhação. Desde às 23h de ontem já tinha mais de 40 pessoas na
fila”, resumiu dona Maria Cícera Dantas de Oliveira, pescadora de 56
anos, a segunda da fila. Cícera veio acompanhar o marido, o pescador
aposentado Paulo Cândido da Silva, 60, que precisa de uma segunda via da
carteira de identidade para continuar recebendo o benefício pois uma
doença roubou-lhe os movimentos das mãos. “Vim a primeira vez ontem
(quarta, dia 11) às 5h, mas a fila já estava enrolando na outra rua.
Voltei de tarde para conseguir ser atendida”, contou a pescadora.
Magnus Nascimento
Maria Magna (de preto) tentava senha pela quarta vez na Z. Norte
Dona Cícera afirma que é comum a presença de pessoas vendendo o lugar na
fila por R$ 30 na Central do Cidadão Zona Norte. Apesar da reportagem
ter tentado, em vão, uma declaração anônima do 'comerciante' para saber
como funciona o negócio, outras pessoas da fila confirmaram o comércio
da ficha para atendimento no guichê do Instituto Técnico-Científico de
Perícia (Itep-RN).
Na Central Zona Norte não há atendimento
preferencial: idosos, mulheres grávidas, crianças de colo e deficientes
físicos disputam as vagas com jovens e adultos. A dificuldade se
restringe ao serviço prestado pelo Itep-RN, sobrecarregado pelo quadro
deficitário de servidores, o atendimento é mais tranquilo para os demais
serviços, como emissão de CPF e Carteira de Trabalho por exemplo.
Grande parte da demanda, pelo menos neste
início de ano, é para emitir RGs de novos alunos, uma exigência das
escolas para efetivar matrículas. A estudante Alessandra Torres, 12
anos, de São Gonçalo do Amarante, estava na posição 42, mas estava
esperançosa. “Estou arriscando. Cheguei às 2h30 da madrugada, estou a
três dias sem dormir direito e só tenho até amanhã pra fazer minha
matrícula”, lamentou.
Já Jonh Lennon da Silva, de 26 anos, morador
de Igapó, cumpriu 9 meses no regime fechado e há 4 meses cumpre a
condicional. Todas as semanas ele precisa assinar presença, perdeu os
documentos, e se não tirar uma nova via corre risco de voltar pra
cadeia. “O jeito é vir dormir aqui também”, resignou-se.
Estruturas
Central do Cidadão Via Direta
O atendimento do Itep-RN conta com dois funcionários para atendimento, e
o número médio de identidades emitidas é de 120 por dia.
Central do Cidadão Alecrim
A unidade também agrega a sede da Central de Identificação do Itep-RN.
Treze funcionários prestam atendimento e cerca de 300 RGs são emitidos
diariamente.
Central Zona Norte
Apenas u funcionário do Itep-RN presta atendimento (o outro está de férias). Cerca de 40 carteiras são emitidas por dia.
As Centrais começaram a operar em Natal em
1997 com duas unidades, mas já funcionaram cinco unidades na capital
potiguar - além das três atuais, também funcionavam Centrais na Av. Rio
Branco, na Cidade Alta; e no Praia Shopping em Ponta Negra. Atualmente,
são 21 Centrais espalhadas pelo Estado, que oferecem serviços diversos
como atendimento de órgãos como a Delegacia Regional do Trabalho, Sine,
concessionárias de água, luz e telefonia, Detran, Itep-RN, Polícia
Federal e TRE.
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