A recente matéria publicada por um veículo de Currais Novos não informa: maquia a realidade. Embalada por uma manchete bajuladora — “Iranildo Aciole, a força do sertanejo que enfrentou as adversidades e sustentou Lagoa Nova no primeiro ano de mandato” — a publicação não passa de uma peça de propaganda disfarçada de jornalismo. Para quem vive em Lagoa Nova, a leitura provoca indignação. Para quem governa, deveria provocar vergonha.
A narrativa tenta vender a imagem de um prefeito heroico, supostamente obrigado a “consertar” uma cidade destruída por gestões anteriores. O que a matéria convenientemente omite é um fato incontestável: o atual prefeito foi vice-prefeito por dois mandatos consecutivos.
Oito anos.
Oito anos participando das decisões.
Oito anos assinando atos.
Oito anos compondo a base do poder.
E há mais: em diversas ocasiões, o atual prefeito assumiu oficialmente a Prefeitura, exercendo o cargo de chefe do Executivo sempre que o então prefeito se afastava em períodos de férias. Ou seja, não foi apenas coadjuvante. Governou. Decidiu. Mandou.
Diante disso, fingir surpresa agora não é ingenuidade. É má-fé política.
Não existe herança a ser combatida por quem ajudou a construí-la, administrá-la e, em vários momentos, assumi-la integralmente. O que Lagoa Nova vive hoje não é reflexo do passado. É consequência direta de um governo despreparado, desorganizado e incapaz de gerir.
A gestão que expulsou os de casa para importar problemas
O primeiro gesto da administração já escancarou seu desprezo pela cidade: uma enxurrada de nomeações de assessores de fora, entregando setores estratégicos a pessoas sem qualquer vínculo com Lagoa Nova. Jurídico, Licitação, Recursos Humanos, Saúde, Educação, Assistência Social e Meio Ambiente passaram a ser comandados por quem sequer conhece a realidade local.
O discurso técnico durou pouco. Denúncias feitas na Câmara Municipal apontaram que alguns desses “especialistas” estariam envolvidos em crimes contra o dinheiro público em outros municípios. A gestão não apenas ignorou os talentos locais: importou suspeitas, processos e instabilidade administrativa.
O caos virou método
Sem planejamento, sem estratégia e sem responsabilidade, a gestão optou pelo caminho mais fácil: destruir para depois improvisar. Licitações foram canceladas em bloco por decreto, fragilizando serviços essenciais. Em seguida, vieram as contratações emergenciais — coleta de lixo, transporte escolar — exatamente o tipo de prática que historicamente abre portas para desperdício, irregularidades e falta de transparência.
Na saúde, o erro ultrapassou o limite do aceitável. A gestão aderiu a uma ata de registro de preços de um município com apenas um terço da população de Lagoa Nova. O resultado foi previsível e devastador:
● meses de desabastecimento de medicamentos;
● pacientes sem acesso a remédios básicos;
● pessoas em tratamento psiquiátrico abandonadas por cerca de 80 dias, sem acesso
à receita controlada.
Isso não é falha técnica.
É abandono institucional.
Funcionários fantasmas e privilégios escancarados
Enquanto faltavam medicamentos, sobravam privilégios. A folha de pagamento virou abrigo de irregularidades. Uma procuradora denunciada por não cumprir expediente só foi demitida depois que o escândalo veio a público. Outros servidores, lotados no hospital e em secretarias, permaneceram recebendo salários sem trabalhar.
Há ainda o caso grotesco de servidor contratado por processo seletivo que comparecia apenas às sextas-feiras, pois passava o restante da semana estudando fora da cidade — tudo com o conhecimento e a tolerância da gestão.
Para completar o retrato do fracasso administrativo, a empresa contratada emergencialmente para a coleta de lixo teve o contrato rescindido após falhas e irregularidades nos próprios processos licitatórios conduzidos pelo governo municipal.
A matéria publicada fora de Lagoa Nova tenta construir um mito. Aqui dentro, o que se vê é um governo que mente para fora e falha para dentro. Uma gestão que troca propaganda por resultado, discurso por eficiência e narrativa por responsabilidade.
O povo de Lagoa Nova não precisa de manchetes fabricadas.
Precisa de gestão.
E isso, infelizmente, segue em falta.
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