A denúncia foi feita pelo vereador Lúcio Flávio (PL) de Aracaju que levou uma foto da proposta de redação do vestibular para embasar seu discurso na Câmara.
A Universidade Federal de Sergipe (UFS) suspendeu a prova de redação do Vestibular EAD nesta terça-feira (12), depois da repercussão sobre o tema.
Um dos textos motivadores citava a eleição de Jair Bolsonaro, atribuindo ao “bolsonarismo” ligação direta com o crescimento de grupos neonazistas no país.
A reação foi imediata. O vereador de Aracaju, Lúcio Flávio (PL), divulgou o enunciado nas redes sociais, classificou a proposta de redação como ideológica e denunciou o caso na tribuna da Câmara Municipal.
Ele anunciou que levará o episódio ao Ministério Público Federal, ao Conselho da UFS e ao projeto Escola Sem Partido.
Resposta da Universidade Federal de Sergipe
Em nota, a universidade afirmou que não tem acesso prévio às questões elaboradas pela Comissão de Concursos Vestibulares (CCV) e declarou não compactuar “com qualquer forma de discriminação, polarização política ou radicalismos ideológicos”.
A instituição garantiu que adotará medidas para assegurar a lisura dos processos seletivos.
Como era a questão que associava Bolsonaro ao neonazismo?
O trecho da prova que cria essa associação está na proposta de redação. Nesta etapa, o candidato é apresentado a dois textos de apoio que contextualizam o tema sobre o qual ele escreverá.
O primeiro texto de apoio, chamado “A AMEAÇA ATUAL: NEONAZISMO NO SÉCULO XXI”, é a última parte de uma matéria da Revista Fórum.
Segundo o texto, o Brasil teria registrado um crescimento expressivo de grupos neonazistas com mais de 500 células ativas, sobretudo nas regiões Sul e Sudeste.
O fragmento relata que casos de violência atribuídos a esse movimento teriam se multiplicado e que alguns de seus integrantes recorreriam a discursos de “liberdade de expressão” ou “patriotismo” para se inserir no debate público. Veja o texto completo:
"A AMEAÇA ATUAL: NEONAZISMO NO SÉCULO XXI
Nos últimos anos, o Brasil tem registrado um crescimento expressivo de grupos neonazistas. Segundo levantamentos feitos por pesquisadores e órgãos de segurança, há mais de 500 células neonazistas ativas no país, especialmente nas regiões Sul e Sudeste.
Casos de violência associada ao neonazismo se multiplicaram. Algumas ataques recentes a escolas e eventos culturais revelaram conexões diretas com ideologias extremistas. A retórica extremista, muitas vezes disfarçada de “liberdade de expressão” ou “patriotismo”, também passou a circular com mais força em ambientes políticos.
O Brasil tem uma história complexa com o nazismo — desde a existência da maior célula fora da Alemanha até o atual crescimento do neonazismo no país, com movimentos políticos nacionalistas misturados com a religião. Hoje, principalmente homens jovens se mostram conectados ideologicamente, atuando em comunidade em algumas redes sociais, que não monitoram os conteúdos compartilhados, ou até, são coniventes. Cada vez mais, a necessidade de monitoramento se torna essencial.”
O segundo texto, que aparece logo a seguir na página da prova, gera uma associação direta entre a eleição de Jair Bolsonaro e a ascensão dos grupos extremistas apresentados no primeiro texto. Veja o segundo texto completo:
“A ELEIÇÃO DE JAIR BOLSONARO
Foi a partir de 2019 que as células neonazistas se multiplicaram no país. Na esteira do discurso do presidente Jair Bolsonaro e do avanço da direita no Brasil, esses grupos se sentiram autorizados a atuar. Não é exagero dizer que esses movimentos se identificam com elementos da retórica bolsonarista.
Em escolas e eventos, já foram vistas pessoas se manifestando com frases como ‘Brasil acima de tudo’ e ‘Deutschland über alles’, que significa ‘Alemanha acima de tudo’, bordão utilizado na Alemanha de Hitler.”
O texto foi retirado da Revista Veja. A matéria explora quatro coisas que explicariam a ascensão do neonazismo no Brasil e uma delas seria a eleição de Jair Bolsonaro.
Após os dois textos motivadores, a prova entregava ao aluno a proposta de redação:
“PROPOSTA DE REDAÇÃO
Os discursos de extrema-direita e ultranacionalistas são disseminados e potencializados por meio de diversos novos formatos de comunicação, como as plataformas digitais. Diante desse cenário, como assegurar a defesa da democracia e dos direitos humanos?”
Além do vereador, várias pessoas na internet questionaram o viés ideológico da proposta. A própria Universidade Federal de Sergipe se demonstrou surpresa com o conteúdo e disse não compactuar com o que foi feito.
A instituição alegou não ter tido acesso prévio à prova por motivos de lisura do processo seletivo. Após a denúncia, a Universidade cancelou a prova de redação.
Fascista e nazista se tornaram xingamentos, mas são conceitos históricos que refletem uma dor profunda
Mais de seis milhões de judeus foram vítimas do holocausto, uma política genocidade conduzida pelo governo de Adolf Hitler. Uma das influências do Nazismo na Alemanha foi o Fascismo de Mussolini na Itália.
Essas duas ideologias políticas fizeram com que intelectuais dedicassem a sua vida a estudar o tema a fim de compreendê-lo. Afinal, por se tratar de algo tão sério e que deixou marcas em tantas pessoas, o assunto não pode ser tratado por achismos.
Achistas são aqueles que acham que sabem o que significa uma coisa, mas nunca dedicaram tempo para entendê-la profundamente.
Na contramão dos achistas, estão historiadores como Richard Evans.
Richard J. Evans é um renomado historiador britânico especializado na história da Alemanha nos séculos XIX e XX, reconhecido mundialmente por sua trilogia sobre o Terceiro Reich, considerada “brilhante” e “magistral”.
Ex-Professor Regius de História em Cambridge e presidente do Wolfson College, Evans é autor de 18 livros e figura central em debates historiográficos, como o Historikerstreit, defendendo o rigor histórico contra o negacionismo do Holocausto e o ceticismo pós-modernista. Foi condecorado cavaleiro pela Coroa Britânica por suas contribuições à pesquisa histórica.
Richard Evans é um dos entrevistados da Brasil Paralelo para o épico História do Fascismo
Uma super produção em que a equipe da BP viajou para vários países do mundo e entrevistou alguns dos maiores especialistas sobre o tema.
Nesta série documental, tanto o Fascismo quanto o Nazismo, incluindo a relação entre os dois, serão analisados. O primeiro episódio vai ao ar de graça. Cadastre-se para ser avisado no dia:
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