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Há 24 anos, a rotina de Genival Bezerra da Silva é a mesma: lavar carros. Sem conseguir emprego formal, ele deixou de contribuir |
“Metade dos nossos trabalhadores não tem garantias trabalhistas mínimas,
não tem os direitos previdenciários garantidos. Qual será o futuro
dessa população quando chegar a época da aposentadoria?”, questiona o
economista Aldemir Freire. Do universo de 1,3 milhão de trabalhadores
espalhados pelo Rio Grande do Norte, 54% tinham recursos recolhidos à
Previdência Social até o fim do ano passado. Cerca de 620 mil homens e
mulheres de todas as idades, funcionários de si mesmos ou de outrem, não
contribuíram com um centavo sequer.
Há 24 anos atuando como autônomo, o
lavador de carros Genival Bezerra da Silva, de 48 anos, é um exemplo
desse perfil de trabalhador. “Faz muitos anos que não pago o INSS. Na
verdade, só paguei na época que trabalhei numa construtora, coisa de
dois anos. Depois disso, a coisa apertou e não deu”, conta. Desde 1994,
ele se instalou nas Av. Duque de Caixas, na Ribeira, em Natal, onde lava
carros. Por semana, ele apura cerca de R$ 150. “A sorte é que minha
mulher ganha o Bolsa Família e a gente divide as contas”, detalha.
Questionado sobre a aposentadoria, ele sorri desconfiado e replica: “Vai
ser difícil, né? Sei não como será”.
Nesse exército de não-contribuintes, os riscos
que os cercam são diversos: o de não se aposentar, o de adoecer e não
contar com cobertura assistencial previdenciária e o de sofrer um
acidente e não ter o direito à perícia. “É necessário um programa
assistencial para essas pessoas. Mas, em geral, essas mesmas pessoas não
tem capacidade de poupança, de guardar algo para a Previdência. Por
isso, que o problema é tão sério”, afirma Aldemir Freire. “Deixou de ser
uma questão previdenciária nata, mas, sobretudo, social”, declara.
“A informalidade vinha caindo até o fim de
2015. Mas depois ocorreu o inverso, quando a recessão na economia se
acentuou. Caiu a formalidade e ampliou a informalidade no estado. Isso
acabou por desequilibrar, ainda mais, a questão da contribuição para a
Previdência Social”, declara Aldemir Freire. No fim de 2015, dos 1,356
milhão de trabalhadores no Rio Grande do Norte, 780 mil eram
contribuintes. Outros 576 mil, não. No fim do ano passado, quando foram
registrados 1,330 milhão de operários no estado, 710 contribuíam e 620
mil, não.
Questionado sobre como esses trabalhadores que
não contribuem para a Previdência Social deverão ser pagos quando do
alcance da idade para aposentadoria, o economia afirma que o Governo
Federal deverá cobrir o déficit da arrecadação para o INSS com recursos
tributários, oriundos da arrecadação de impostos. “O mercado de trabalho
potiguar iniciou uma recuperação em 2017, com quase 50 mil novas
ocupações. A maioria delas, porém, informais e não contribuintes para a
Previdência Social”, ressalta Aldemir Freire.
Balanço anual
Balanço anual
O mercado de trabalho no RN encerrou 2017 com
saldo negativo de vagas. Somente em dezembro foram fechados 2.851 postos
formais de trabalho, numa tendência diferente ao longo do segundo
semestre do ano, que acumulava saldo positivo em contratações. O número,
porém, é menor quando comparado com o mesmo período de 2016, quando
foram demitidos 3.321 trabalhadores; e 2015, com desligamento de 4.359.
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