RIO- Especialistas classificaram como crítico o
cenário traçado pelas estatísticas da Avaliação Nacional de
Alfabetização (ANA), divulgadas pelo Ministério da Educação (MEC), nesta
quarta-feira. Os dados da ANA mostraram que mais da metade dos alunos do 3º ano do ensino fundamental têm nível insuficiente
em provas de leitura e matemática. Os educadores criticaram a falha na
implementação de políticas e a falta de continuidade das iniciativas.
De acordo com o MEC, em 2014 o índice de alunos com
nível insuficiente em leitura era de 56,17%, agora está em 54,73%, o que
indica a estagnação na melhoria das taxas. Nesse caso, o nível
insuficiente indica que os estudantes não conseguem identificar a
finalidade de um texto e localizar uma informação explícita. No caso da
escrita, 34% estão no pior patamar, não sendo capaz de escreverem as
palavras de maneira alfabética e produzindo textos ilegíveis. O
ministério não disponibilizou comparação com a avaliação anterior, já
que os parâmetros metodológicos foram alterados.
Para o gerente de políticas educacionais do Movimento
Todos Pela Educação, Gabriel Corrêa, o Brasil peca em todos os aspectos
necessários para o desenvolvimento de uma política eficaz.
- Sempre que olhamos para uma política pública temos
que levar em conta um bom desenho, uma boa implementação e sua
continuidade ao longo de diferentes gestões. Os três aspectos são
fundamentais e o Brasil peca em todos- criticou Corrêa. - Precisamos
discutir quando queremos alfabetizar as crianças e como fazê-lo, além do
que fazer para mudar esses resultados rapidamente. No ritmo de avanço
que estamos, nossa geração não vai conseguir ver todas as crianças
alfabetizadas no país e isso é uma vergonha nacional.
Os resultados deram argumentos para a defesa feita
pelo MEC de que a alfabetização seja antecipada para o 2º ano na Base
Nacional Comum Curricular (BNCC). O documento que irá nortear os
currículos do país está no Conselho Nacional de Educação e um dos pontos
sensíveis do texto, que tem gerado discussão entre o ministério e o
CNE, é justamente essa antecipação. Em entrevista ao GLOBO, na semana
passada, a presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Maria Inês Fini, já havia declarado
que o MEC iria "brigar por isso" na discussão sobre a BNCC.
Corroborando essa posição, a pasta anunciou também nesta quarta-feira
que irá antecipar a Avaliação Nacional de Alfabetização, que passará a
ser feita no 2º ano e não mais no 3º.
O diretor-executivo da Fundação Lemann, Denis Mizne,
concorda com a visão adotada pela gestão do MEC. Segundo ele, antecipar a
alfabetização para o 2º ano pode ser uma ferramenta eficaz para
combates os índices alarmantes divulgados pela ANA.
- Nem todos os alunos se alfabetizam na mesma
velocidade, mas a maioria das escolas bem sucedidas consegue alfabetizar
até o segundo ano, isso é natural. A gente precisa aproveitar a
oportunidade e colocar um foco grande na questão. Essa falha na
alfabetização vai influenciar índices de evasão lá na frente. Os
professores do segundo segmento do ensino fundamental não são
alfabetizadores, a gente precisa fazer isso na idade certa. Se deixarmos
passar, como tem acontecido, não vamos conseguir ver melhorias nas
outras etapas de aprendizagem- defendeu.
No mesmo dia que anunciou os dados da ANA, o MEC
lançou também a Política Nacional de Alfabetização, que pretende colocar
um professor assistente em todas as turmas de 1º e 2º ano do ensino
fundamental do país, atendendo, dessa forma, 4,6 milhões de alunos. Na
opinião de João Batista Araujo, presidente do Instituto Alfa e Beto, a
política é descolada da realidade.
- Os resultados da ANA mostram uma cena de catástrofe
nacional. O ministério não desenvolve uma estratégia que poderia ajudar
o professor efetivamente. Não diz o que ele tem que fazer e ensiná-lo a
fazer isso. Vão criar postos de assitentes, mas de onde vem 200 mil
pessoas que de repente sabem alfabetizar? É uma ideia fantasiosa. A nova
política repete as velhas, não leva em conta a realidade, não faz antes
um projeto piloto- avaliou.
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