O Relatório de Estabilidade Financeira Global, divulgado ontem pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), mostra preocupação com o nível de inadimplência no Brasil e os limites do uso do crédito para conter a crise. O documento destaca o rápido crescimento na oferta de financiamentos nos últimos anos e especialmente o papel do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) nesse processo.
Especialistas consultados pela equipe do Diário, entretanto, discordam desse alerta, e alegam que a tomada de empréstimos já foi maior do que hoje e que o índice de inadimplência está estabilizado. De fato, em 2010 a oferta de crédito cresceu 25%, enquanto que, no ano passado, a expansão foi de 20% e, hoje, está em 15%.
Além disso, dados do Banco Central mostram que, do total da carteira de crédito, em janeiro 7,6% não honravam com suas dívidas, percentual que se manteve em fevereiro. No fim de 2010, esse índice era de 5,7%. O pico de calotes é consequência do entusiasmo e facilidade no acesso ao crédito no ano passado. Hoje, a maior restrição aos financiamentos é apontada como um dos fatores que contribuem à diminuição da venda de carros novos, apontada como vilã dos pagamentos em dia.
"O FMI está impressionado com o crescimento do crédito, mas não parou para analisar que houve aumento da renda. E, enquanto houver melhora nos salários, haverá procura por financiamentos", analisa o economista chefe da Associação Comercial de São Paulo, Marcel Solimeo. "É preciso ter sempre cautela na concessão de empréstimos, mas não acredito que estejamos em limite de esgotamento, já que a renda segue crescendo."
Segundo o FMI, a expansão do crédito tem sido liderada pelo BNDES, cuja atuação ajudou a limitar o impacto do colapso do Lehman Brothers na economia brasileira ao longo de 2009. Na avaliação da professora de Economia da ESPM e da PUC-SP Cristina Mello, embora o banco tenha promovido oferta rápida de financiamento na crise, para ter acesso a ele, é necessário ter um banco parceiro, que geralmente prefere oferecer suas linhas do que as do BNDES.
"O crédito é bom para quem não precisa dele. Não precisávamos aumentar a oferta, mas canalizá-la para o setor produtivo, e não para o consumo. As propagandas são sempre direcionadas à pessoa física", comenta. "Acho que os níveis de crédito no Brasil não são de assustar. O problema é que temos um grupo de muita baixa renda, que só consegue comprar com financiamento. E aí tem-se um risco, pois essas famílias vão ter de escolher entre pagar o financiamento e abrir mão do consumo ou seguir comprando e tornar-se inadimplente. Por isso é preciso orientar o uso do crédito com cautela." (com AE)
Nenhum comentário :
Postar um comentário