sexta-feira, 16 de julho de 2021

DJ Ivis: prejuízo para a indústria da música vai além do financeiro

 

Foi um domingo intragável para a gente.

É assim que um dos responsáveis por uma grande empresa da indústria do forró —que não quis ser identificado— define a reação dele e de sua equipe diante dos vídeos que mostram as agressões de DJ Ivis contra a mulher, Pamella Holanda. Um dos maiores nomes do chamado forró eletrônico, Ivis foi preso na última quarta-feira (14), em Eusébio (CE).

Segundo o empresário, medidas urgentes precisaram ser tomadas e a equipe do entrevistado —que estava toda de folga— teve que correr para apagar posts relacionados ao DJ das redes sociais e interromper ações programadas para a semana. Entre elas, estava o lançamento do clipe de uma música de Ivis com alguns de seus artistas, previsto para o dia seguinte.

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Ele não era o único a contar com Ivis na tentativa de emplacar um sucesso. O DJ paraibano tinha mais de 40 lançamentos programados até o fim de 2021 —entre participações em faixas de outros artistas e músicas próprias.

No momento, todas as produções envolvendo o DJ estão suspensas. A relação com a Sony Music, que contratou o artista em abril deste ano, "está sendo revisada", segundo comunicado divulgado pela gravadora na segunda-feira.

As consequências dos atos do DJ Ivis para o mundo da música ultrapassam as barreiras do forró.

O gênero recentemente se tornou um dos mais fortes da música no país, com artistas e sucessos entre os mais tocados entre todos os gêneros musicais.

Se, entre os forrozeiros, surgem discussões até sobre uma mudança na sonoridade das próximas produções, para fugir do estilo eletrônico consagrado pelo DJ, o caso reverbera também em outras cenas. E os envolvidos agora se veem diante de um prejuízo que vai além do financeiro.

No auge da carreira, Ivis, de 29 anos, havia "rompido a bolha" do forró e era um dos nomes mais procurados do mercado para fechar parcerias musicais, os chamados "feats". Muitos artistas de outros estilos queriam contar com o talento e o trabalho do DJ, que tinha mais de 7,7 milhões de ouvintes mensais no Spotify até o último domingo, quando as agressões foram reveladas —e suas faixas acabaram perdendo espaço neste e em outros serviços, como a Deezer e o YouTube.

Latino era um dos que apostavam em uma parceria com o produtor e DJ. Ivis era uma das participações confirmadas em "Exxxquece!", single do funkeiro que tem lançamento previsto para agosto. Ainda no domingo, Latino foi às redes sociais para informar que faria uma nova versão da música e do clipe, sem Ivis.

Em nota enviada a Splash, Latino falou sobre o prejuízo com o retrabalho —que, segundo ele, chega a R$ 300 mil. Ele reforça, no entanto, que seu problema é "infinitamente pequeno perto do que Pamella sofreu".

No forró, muita preocupação

Diante do status que DJ Ivis conquistou ao se tornar um dos artistas mais ouvidos do Brasil, as cenas de violência doméstica —e a consequente prisão do artista— caíram como uma bomba na indústria do forró.

É um prejuízo incalculável para o meio. Ele produzia muitos artistas, além de cantar. Ninguém mais quer associar o trabalho a ele. Quem tinha parceria com ele está perturbado, atrás de outros produtores.

Jorge Mack Fly, ex-trombonista do Aviões do Forró e atual presidente da Associação de Músicos do Ceará

Nos últimos anos, Ivis ganhou destaque como um dos principais representantes do piseiro —ou pisadinha—, tipo de forró eletrônico feito a partir de um teclado, que ganhou as paradas de sucessos do país inteiro. Mas uma mudança de rumo na produção de novas músicas também não está descartada.

Segundo Mack Fly, músicos e produtores de forró cogitam mudar a sonoridade dos próximos lançamentos, para "fugir" de um som que ficou muito marcado pelo trabalho de Ivis.

"Acho que a roupagem vai mudar, porque a linha do DJ era a linha dele. Ninguém fazia o que ele fazia. A galera copiava", diz o representante dos músicos, que acredita que a indústria do forró vai resistir a esse "grande baque".

O forró é muito maior que o DJ Ivis, centenas de léguas e trinta voltas na lua. O que ele fez não vai diminuir em nada o forró, porque é responsabilidade inteira dele. Ninguém mandou ele fazer aquilo.

Jorge Mack Fly

Os posicionamentos da indústria

Artistas, empresas de música e outros agentes da indústria fonográfica, além de romper parcerias profissionais com Ivis, repudiaram publicamente as atitudes do DJ. Em entrevista a Splash anteontem, Marília Mendonça —que não lançou nenhum trabalho com Ivis— disse que "o mais pesado" foi ver o DJ tentar justificar as agressões.

A Som Livre, que tinha quatro músicas de seus artistas em parceria com o DJ, tirou todas as faixas das plataformas digitais, que tomaram atitude parecida: Spotify, Deezer, Apple Music e Sua Música foram alguns dos serviços que tiraram "apoio editorial" que davam ao artista, como capas de playlists de destaque.

Questionada por Splash sobre o futuro de Ivis na gravadora, a Sony Music Brasil não respondeu a tempo da publicação desta reportagem. Os advogados do artista também foram procurados para comentar sobre as quebras de parcerias, mas não responderam às tentativas de contato.

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