Quem não tem direção nunca
chegará a lugar nenhum
O ano de 2018 passou sobre o PT
como um caminhão sem freios. O curioso é que isso nada tem a ver com os
resultados eleitorais de outubro último: nas urnas, o PT conseguiu obter a
maior bancada da Câmara dos Deputados, elegeu quatro senadores e três
governadores, além de ter ido ao segundo turno presidencial com um candidato
desconhecido e sem carisma – feitos dignos de inveja. Tampouco a operação Lava
Jato foi responsável por abater tanto o partido no ano passado.
Na verdade, o mal que vitima o PT
é a perda de sua racionalidade, de sua razão de ser, de sua lógica interna. Sem
consistência em seus ideais, o PT divide esforços, deixa de ser convincente e
acaba ofuscado por todos os demais partidos de esquerda que, durante os anos de
bonança, se abrigaram sob suas generosas asas.
Um episódio recente é capaz de
ilustrar o quão perdidos estão corações e mentes dos petistas: durante alguns dias,
os petistas se animaram efusivamente com a troca de farpas, via redes sociais,
entre o presidente Jair Bolsonaro e o ator José de Abreu. Voltando de suas
férias na Grécia, Abreu foi recebido por uma multidão no aeroporto e,
declarando-se presidente, escalou os ministros de seu governo alternativo
direto de uma mesa de bar. A euforia se esvaneceu rapidamente, e os petistas
logo voltaram para uma longa e infrutífera campanha pela libertação de Lula.
Ao contrário do que muitos
poderiam pensar, tirar Lula da prisão não é um objetivo que unifica e incendeia
o partido. O caso de Lula se desenrola, há anos, em centenas de complicadas
chicanas processuais, a ponto de muitas vezes, ser difícil compreender se o
ex-presidente ganhou ou perdeu com a decisão da vez. Enquanto parte da
militância petista tenta entender os resultados que saem da Justiça Federal em
Curitiba, Brasília, Porto Alegre e Rio de Janeiro, além das decisões
individuais e colegiadas do STJ e do STF, os políticos eleitos pelo partido
vivem outro dilema. Querem construir suas bases pessoais de apoio para conduzir
seus mandatos da melhor maneira possível e, dentro de dois ou quatro anos,
buscarem se reeleger.
A questão é que, mesmo antes da
prisão de Lula, o PT já se encontrava sem rumo. A gradual transformação de um
partido orgânico e plural na extensão institucional de seu líder, conduzida
pelo próprio Lula a partir de 2003, foi gerando dissidências e ressentimentos
que, muitas vezes, nem os benefícios de se estar no poder conseguiam aliviar.
Dividido e sem ideias que
orientassem militância e lideranças: foi assim que o PT recebeu a recente
entrevista concedida por Lula, a primeira após um ano de isolamento. Sem
nenhuma palavra, ideia ou orientação novas, Lula apenas difundiu sua imagem.
Com isso, levou lenha aos setores petistas que abraçaram seu culto
personalista, enfraquecendo as lideranças que buscavam caminhos alternativos,
seja para o partido ou para seus próprios mandatos.
Quem não tem direção nunca
chegará a lugar nenhum. Por mais que ainda tenha força nas urnas, o PT não tem
porto seguro no horizonte.
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