sábado, 28 de janeiro de 2012

Eu quero uma fila


"As filas aumentam a tensão, tiram o cidadão do sério", diz jornalista (Foto:Diogo Lima/vc repórter)

Tem gente que não pode ver uma fila e - vupt - se coloca nela. Não sabe para que, mas se tem tanta gente deve ser por algo bom. Fila para comprar, fila para ganhar, fila para entrar. Fila para comer, fila para estacionar, fila para entrar na fila.

É só o relógio-ponto marcar 18h de sexta-feira e meia São Paulo, meia Porto Alegre, meia Salvador correm para as estradas. É hora de fugir da cidade grande para colocar o pé no mar. Um fim de semana de descanso após uma semana de muito trabalho.

Tudo muito bem, tudo muito bom, mas precisava ser esse o hábito de milhões de pessoas ao mesmo tempo?

O inferno do verão é o caminho para o litoral. Milhões de automóveis disputam asfalto, todos querendo chegar antes. Ultrapassa pelo acostamento, xinga o motorista de caminhão que reduz a velocidade, amaldiçoa a família que não tem trocado no pedágio. O resultado é até 12 horas de viagem, quando o normal seria uma hora.

Aí vem a pergunta: por que o brasileiro gosta tanto de enfrentar filas? Para que sofrer no fim de semana?

O estresse da cidade grande está matando o cidadão das grandes. A fila é parte do dia a dia, um complexo de sofrimento alimentado no cotidiano.

Passageiro de avião adora fila. Quando faltam 15 minutos para o portão abrir - e então o embarque estar liberado - começa a fila. Só que no avião há lugar marcado. Quem chegar por último terá seu lugar assegurado. Mas não adianta, todos querem entrar antes. E a fila só aumenta.

E na hora de descer do avião? Bastou tocar o solo para os apressadinhos ensaiarem levantar rápido. E quando o ruído do motor desaparece, todos - todos - levantam-se juntos e ficam em fila, esperando a porta se abrir para desembarcar.

Fila em restaurante é um must. Parece que quanto mais fila, melhor fica a comida. Tem gente que espera uma hora em pé para ter o direito a gastar uma fortuna para comer. O mesmo restaurante, quando há êxodo para as praias, fica com mesas livres, caçando clientes. Mas aí parece que não tem graça. Como sentar sem enfrentar fila por um lugar?

Outra fila curiosa é em posto de combustível. Uma oferta de 5 centavos pode provocar uma tremenda espera, que na ponta do lápis representa não mais que R$ 2 de economia. A fila de meia hora vale isso?

Uma das mais incríveis é a fila por vaga de estacionamento em shopping. O cidadão vai até o shopping porque lá tudo é mais fácil, mais seguro, mais confortável. E já na chegada não consegue estacionar. Fica esperando, esperando, esperando, torcendo para alguém sair. Lá dentro enfrenta fila para comer, fila para ir ao cinema, fila no sorvete para o filho.

As filas aumentam a tensão, tiram o cidadão do sério.

E ainda tem quem queira ir à praia sexta-feira.

Eduardo Tessler é jornalista e consultor de empresas de comunicação. Edita o blog Mídia Mundo.

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