terça-feira, 3 de agosto de 2021

Aulas são retomadas em 66 cidades do Rio Grande do Norte

 

Passados pouco mais de dois meses da autorização dada pelo Governo do RN para o retorno das aulas presenciais, suspensas em razão da pandemia de Covid 19, quase dois terços dos municípios potiguares ainda não retomaram as atividades. A explicação para isso está ligada ao tempo necessário para a melhora na situação epidemiológica do RN e também a dificuldades das secretarias na operacionalização do retorno, como viabilização na compra de insumos, merenda e transporte. De acordo com um levantamento da União dos Dirigentes Municipais de Educação no Rio Grande do Norte (Undime/RN), 66 dos 167 municípios do Estado já retornaram às salas de aula.
Cidades como Mossoró, Caicó e Parnamirim ainda não retomaram aulas presenciais. Na rede estadual, decisão do STF adiou o retorno até vacinação de professores
Cidades como Mossoró, Caicó e Parnamirim ainda não retomaram aulas presenciais. Na rede estadual, decisão do STF adiou o retorno até vacinação de professores

De acordo com o vice-presidente da Undime/RN, Alexandre Soares Gomes, o retorno dos municípios às atividades escolares está dentro do esperado e o número de cidades a voltar às aulas cresce a cada dia. Segundo ele, o número não é maior porque os gestores em educação têm encontrado dificuldades na obtenção de insumos, como merenda e itens ligados às questões sanitárias. Ainda de acordo com ele, as incertezas em virtude da greve por parte do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do RN (Sinte/RN) atrasaram o retorno.

“A questão da compra dos insumos foi um ponto. Muitos não tinham se atentado, achando que não iam retornar agora, e quando foram às compras, ou não encontraram ou quando acharam, não receberam. Muitos municípios reclamaram dessa situação. E outro ponto foi a questão do Sindicato dos Professores querendo o reinício somente após a imunização completa”, comenta o gestor.

Além disso, segundo ele, as incertezas do retorno quando à rede estadual também foram outro fator que pode ter atrasado a volta em alguns municípios. “Tem a questão do Governo do Estado, que disse que voltava, mas não voltou na realidade. Com isso, professores, pais, deixam em dúvida a situação, se eles poderiam ou não voltar. Muitas não poderiam retornar antes porque não tinham sistema próprio. Quando o Governo liberou, a parte de legalidade, mas a publicidade interna dentro da cidade, como por exemplo: meu filho não vai voltar no Estado, por que vai voltar no município?”, cita.

Dois decretos regulamentaram o retorno às aulas presenciais no Rio Grande do Norte. O primeiro deles, o decreto nº 30.516, de 22 de abril de 2021, autorizou o funcionamento até o 5° ano do Fundamental e o 3° ano do Ensino Médio. No outro, decreto nº 30.562, de 11 de maio de 2021, a governadora Fátima Bezerra (PT) regulamentou a retomada das outras séries do Fundamental e Ensino Médio. Em ambos os decretos, a taxa de ocupação nos hospitais públicos do RN era de 90%. Os textos condicionavam o retorno aos cenários epidemiológicos, assistenciais e de transmissibilidade.

Municípios planejam retorno
Cidades como Mossoró, Caicó, Parnamirim, entre outras, ainda não iniciaram o processo de retomada das aulas presenciais. Em Mossoró, por exemplo, a secretária de educação , Hubeônia Alencar, disse que as atividades só retornarão no município após imunização completa por parte dos profissionais de educação.

“Um dos critérios para o retorno com segurança é a vacinação dos profissionais da educação. Só retornaremos presencialmente com ciclo vacinal completo. Já retornamos com atividades remotas desde 1° de março, já iniciando o ano letivo de 2021”, explica. A previsão é que o retorno seja iniciado no dia 13 de setembro, com possibilidade de essa data ser alterada, começando a volta das atividades pelo Ensino Infantil. Mossoró possui 20,1 mil estudantes.

Já em Parnamirim, a perspectiva da secretária Justina Iva de Araújo Silva é que as aulas sejam retomadas no próximo dia 17 de agosto, com os quatro níveis do ensino infantil. A cada 14 dias, as turmas voltarão gradativamente. “Estamos com algumas pendências, como transporte escolar e merenda, esperando o desfecho da licitação. Acreditamos que até o dia 17 teremos essas questões resolvidas, se não com a totalidade, mas com as que estão literalmente prontas para receber os alunos”, explicou. São 67 escolas na cidade, totalizando 26,3 mil alunos.

Em Caicó, localizada no Seridó potiguar, o secretário de educação do município, Sérgio André de Araújo, garante que as atividades vão voltar no município no próximo dia 16 de agosto. O primeiro grupo é composto do nível 3 e 5 da pré-escola e 1° e 2° ano do Ensino Fundamental. Posteriormente, 14 dias depois, voltarão os níveis 2 e 4 do Ensino Infantil e 3° ao 5° ano do Fundamental. Na última fase, voltarão do 6° ao 9° ano, Ensino de Jovens e Adultos e nível 1 do Ensino Infantil. Em Caicó, a rede pública municipal possui 23 escolas urbanas, uma escola rural com administração própria e mais sete escolas rurais.

“Quando o Estado liberou a volta, fizemos o nosso calendário observando as condições de Caicó e da região, pois vivíamos uma situação delicada em relação à Covid. Assim que os índices começaram a melhorar, então fizemos o planejamento do retorno”, disse. Segundo ele, as escolas estão aptas ao retorno e as semanas que antecedem a volta serão de capacitações e instruções para os servidores e trabalhadores em educação.

Em Natal, as aulas foram retomadas desde o último dia 14 de julho, mesmo com ameaça de greve por parte do Sinte/RN, que além de cobrar a imunização completa para voltar às atividades, também pede um reajuste de 12,78% no piso salarial da categoria, referente ao ano passado. A Secretaria Municipal de Educação diz que o reajuste não pode ser pago no atual momento.

Especialista avalia prejuízos na pandemia
A suspensão das aulas presenciais e a adoção do ensino remoto, e na maioria dos casos, as atividades não presenciais, geraram uma série de prejuízos aos estudantes, seja na esfera do conhecimento, seja na sociabilidade com outros alunos. Na avaliação do professor Gustavo dos Santos Fernandes, doutor em Estudos da Mídia e Mestre em Educação, a questão da interação entre os pequenos é uma das principais preocupações dos pais e professores.

“O ensino remoto acaba não dando essa possibilidade do aluno manter uma interação com seus colegas de classe e professores. Esse é um dos pontos que leva a uma grande reflexão. No ensino remoto, o aluno fica mais excluído desse processo. Quando se está de forma presencial, se brinca, conversa, se tem uma dúvida pode se perguntar a um professor, a um colega de sala. As relações são muito mais ativas”, avalia Soares, que também é secretário de educação de Ielmo Marinho.

Ainda segundo o especialista, a ausência das aulas presenciais é ainda mais sentida entre as crianças dos níveis iniciais no tocante ao desenvolvimento motor dos pequenos. “É muito comum identificarmos em crianças que passam mais tempo na internet, que elas são mais introspectivas na vida social Então acredito que o ensino remoto acaba potencializando esse comportamento entre os jovens. Outro ponto que vejo que é muito forte é a psicomotricidade. Presencialmente, a criança está correndo, brincando, em movimento. E essas crianças dos anos iniciais, elas estão nessa evolução psicomotora. No ensino remoto a criança deixa de correr, brincar, então atrapalha nisso também”, aponta.

Outro ponto também está ligado à questão da desigualdade e falta de condições dos alunos. Uma reportagem da TRIBUNA DO NORTE publicada no dia 11 de julho de 2021 mostrou que metade dos alunos da rede estadual não tinha acompanhado as aulas. Em muitos casos, a falta de internet, ter que dividir um celular com os pais e outras questões inviabiliza o aprendizado.

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