O governo federal lançou esta semana
a Câmara Saúde 4.0, instância dedicada a propor formas de promover a
digitalização da saúde no país. Entre as intenções do Executivo está a
integração de dados dos cidadãos que utilizam esses serviços, não
somente no Sistema Único de Saúde (SUS) como na iniciativa privada.
A iniciativa
faz parte do Plano Nacional de Internet das Coisas (IdC). O termo é
empregado para designar o ecossistema de dispositivos conectados que se
comunicam, não apenas computadores e smartphones, mas também sensores e
eletrodomésticos inteligentes e até veículos. Grupos semelhantes já
foram criados para as áreas de agricultura, indústria e cidades.
“Quando se fala de saúde, temos um país grande, de
difícil acesso. Por meio da tecnologia podemos levar mais qualidade de
vida para as pessoas. Isso envolve 5G [novo padrão de conectividade
móvel que vai suceder o 4G], envolve Internet das Coisas, que vai
revolucionar como a gente vive com as máquinas interligadas e se
comunicando”, destacou o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações (MCTIC), Marcos Pontes, em cerimônia que marcou a criação
da Câmara, em Brasília.
O ministro
da Saúde, Henrique Mandetta, informou que um dos objetivos é constituir
um sistema integrado no qual será criado um prontuário eletrônico de
cada paciente, que vai reunir cinco tipos de dados dos cidadãos:
consulta na atenção básica, resumo da internação, medicação consumida,
exames laboratoriais e vacinas.
“Com esses cinco tipos de dados estamos fazendo um
pequeno chassi e depois vamos acoplando inúmeras outras informações para
construir essa magnitude de sistema, para conectar nossos 215 milhões
de habitantes para não deixar ninguém para trás”, destacou o titular da
pasta. Os dados coletados, continuou, podem ser utilizados para fins de
pesquisa, construção de soluções em saúde, avaliação de situações
relacionadas à cobertura vacinal e enfrentamento de doenças.
Segundo
Mandetta, o projeto vai abarcar não somente os serviços públicos, mas
também a iniciativa privada. “No nosso futuro prontuário, não faz
diferença se é público ou privado, cada um tem que ter o
seu”. Na Câmara, acrescentou, representantes do governo, dos gestores
estaduais e municipais e do setor privado discutirão ações neste
sentido.
“Acredita-se
que em 2025 teremos 75 bilhões de dispositivos conectados à internet.
Imagine a quantidade do uso dessas informações para a saúde. Seja no
monitoramento de paciente crônico, seja no avanço da infraestrutura dos
hospitais, já se fala em hospital 4.0, onde a gente vai automatizar
todos os processos e precisar cada vez menos da interação humana”,
complementou o diretor do Departamento de Informática do SUS, Jacson
Venâncio.
O Ministério da Saúde começou a aplicar um
projeto-piloto no estado de Alagoas, integrando todos os dados do
Sistema Único de Saúde, como parte do programa Conecte SUS. O estado foi
escolhido por facilidades geográficas e pela baixa informatização das
unidades.
Cuidados
Na avaliação
do médico e pesquisador associado do Núcleo de Pesquisa em Direito
Sanitário da Universidade de São Paulo (NAP-DISA/USP) Daniel Dourado, o
potencial de criação de um banco de dados de todos os cidadãos
brasileiros para fins do prontuário unificado inspira cuidados acerca da
segurança e das condições de acesso a essas informações, especialmente
considerando que o governo sinalizou a possibilidade de integração não
somente entre unidades do SUS, mas também entre agentes privados do
setor."
Como eles não detalham como vai ser feito, o
prontuário único vai ser usado como? Quem vai garantir que dados não
sejam usados para alterar o preço dos serviços de saúde suplementar?
Quem vai ser responsável pela segurança e pelo sigilo, já que a lei
determina a responsabilidade do controlador e do operador do tratamento
dos dados? No caso do prontuário, o dado não é apagado ao fim do uso, o
que gera uma complicação adicional”, questiona o pesquisador.
Internet das Coisas
Em setembro do ano passado, a Agência Brasil publicou uma série de matérias sobre a Internet das Coisas.
As reportagens mostravam como essas soluções tecnológicas podem trazer
mudanças na forma como os serviços de saúde são ofertados. No combate a
doenças crônicas e infectocontagiosas, esses equipamentos podem ser
empregados para o monitoramento remoto de pacientes, auxílio à
identificação e controle de epidemias e diagnósticos descentralizados.
Neste último exemplo, inovações viabilizam a realização de exames sem a
necessidade de enviar amostras para laboratórios, permitindo maior
agilidade em decisões do tratamento, especialmente em locais remotos.
Na promoção
da qualidade de vida, há soluções já em implantação no mercado, como
monitoramento do condicionamento por meio de aparelhos como pulseiras,
relógios e lentes de contato. Para assistência a pessoas mais velhas,
pequenos sensores podem alertar quem faz o monitoramento em caso de
queda.
Um sistema denominado “geladeira inteligente de vacinas” (vaccine smart fridge),
de uma empresa nos Estados Unidos, possibilita o acompanhamento em
tempo real da temperatura, o que contribui para evitar dano às doses.
Além disso, com a tecnologia, o controle do estoque pode ser realizado
em tempo real em qualquer lugar do mundo, facilitando a gestão das
doses.
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