sábado, 29 de junho de 2019

RN tem alta taxa de mortalidade

Os avanços na medicina não são suficientes para barrar o alto índice de mortalidade materna no Brasil. O Rio Grande do Norte teve uma taxa de 77,9 mortes maternas a cada 100 mil, segundo levantamento do Ministério da Saúde com dados de 2017 e publicado nesta sexta-feira (28) pelo jornal Folha de S. Paulo. Segundo a reportagem, o país não cumpriu o compromisso internacional de reduzir em 75% os óbitos, que tinha meta de chegar a uma taxa de 35 em 2015.

O índice do Rio Grande do Norte está acima da média nacional, que é de 64,5, e da regional, que é de 73,2. Entre os nove estados do Nordeste, o RN fica atrás apenas do Maranhão, com índice de 101,8 e do Piauí, que tem um índice de 88,6 óbitos de mães a cada 100 mil.
O estado com o menor índice é o Paraná, com 31,7 mortes maternas a cada 100 mil. Já o maior índice de mortalidade está no Pará, com 107,4 mortes a cada 100 mil. A hipertensão é a maior causa das mortes de mães na hora do parto no Brasil. De acordo com levantamento feito pelo Conselho Federal de Medicina, entre 2010 e 2018, o país perdeu 6.715 leitos obstétricos do Sistema único de Saúde (SUS).

Segundo a gerente de atenção à saúde da Maternidade Escola Januário Cicco, Maria da Guia de Medeiros Garcia, uma série de fatores causam morte de mulheres. Quase todos passam pela ineficiência do estado na atenção da mulher durante o pré-natal. Dentre os fatores elencados pela obstetra estão: multiparidade, ou sejam, mulheres com muitos filhos, mulheres que engravidam tardiamente e mãe com doenças graves que não recebem o devido cuidado durante a gravidez e na hora do parto.
Apesar do pré-natal ser feito, atualmente, por boa parte das mulheres que recorrem a rede pública, o acompanhamento não tem qualidade. “Não é que faça pouca consulta, mas a qualidade deixa muito a desejar. Mulheres também peregrinam em maternidades para encontrar algum lugar para ter seu parto”, explicou Maria da Guia.
As causas de morte mais comuns no Rio Grande do Norte, segundo Maria da Guia, são hemorragias e infecções urinárias. Para a obstetra, o estado tem um papel fundamental para reduzir a mortalidade materna. “O estado tem um papel fundamental nessa mortalidade, é preciso que entes façam reciclagens para que as pessoas tenham mais atenção na hora de fazer pré-natal, que precisa ser de boa qualidade. Que conheçam as doenças e deem a tenção devida”, disse.
Para Rodolfo Pacagnella, que preside a comissão de mortalidade materna da Federação da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia, há uma falha do Estado na organização das redes obstétricas.
Morte materna é todo falecimento causado por problemas na gravidez, no momento do parto, ou até 42 dias depois, em mulheres de 10 à 49 anos de idade. A Razão da Mortalidade Materna é o indicador em saúde para avaliar os óbitos, co-relacionando eles com o número de 100 mil nascidos vivos ao ano.
Apesar de o Brasil ter reduzido consideravelmente os números de mortalidade materna nos últimos anos, ainda não conseguiu atingir a meta estabelecida pela Organização das Nações Unidas de reduzir em 75% o índice de mortes até 2015. A cada 100 mil nascidos vivos, ainda morrem no país uma média de 60 mulheres em idade fértil.
As gestantes do Rio Grande do Norte passam a contar a partir desta semana, com uma central de regulação de acesso às urgências em obstetrícia. A medida é fruto do cumprimento de uma sentença de ação civil pública instituída pela União Federal, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que tem como objetivo principal à reorganização do fluxo assistencial e a garantia do encaminhamento adequado para os serviços de alto risco em obstetrícia do Rio Grande do Norte.
As solicitações de acesso serão realizadas pelas unidades de saúde por via telefônica através do (84) 3209-5309, disponibilizada 24 horas por dia, nos sete dias da semana, sem interrupções, onde profissionais da assistência, devidamente treinados e de posse das informações, farão a regulação da parturiente de acordo com a classificação de risco respeitando o perfil regional, sendo gerada uma senha de acesso que será repassada ao solicitante.
Segundo a gerente de atenção à saúde da MEJC, Maria da Guia de Medeiros Garcia, a luta pela implantação de uma central é antiga e vem somar esforços na redução da superlotação frequente na Maternidade. “A central de regulação será um caminho mais curto entre a gestante e os serviços e leitos obstétricos de nosso Estado. Funcionará, por exemplo, para evitar que pacientes de baixo ou médio risco, sejam encaminhadas para unidades que tem como referência o alto risco”, afirma.
De responsabilidade da Secretaria de Estado de Saúde Pública (SESAP) do Rio Grande do Norte e projetada a partir das discussões realizadas com os municípios, unidades hospitalares regionais e municipais de saúde, o funcionamento da Central de Regulação de Acessos às Urgências em Obstetrícia no Estado, foi assumido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) do RN, que detém experiência e competência para tanto, sendo esta ainda uma forma de racionalização de recursos públicos no cumprimento da sentença judicial transitada em julgado.

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