Massa de rejeitos tóxicos avança pelo rio Paraopeba, em Minas Gerais, com uma velocidade média de 1 km/h
A lama tóxica que vazou
da barragem de rejeitos da extração de minério de ferro, em Brumadinho
(MG), chegará à região de Três Marias, onde se encontrará com
a bacia do rio São Francisco, por volta do dia 15 de fevereiro. Essa
é a previsão do Serviço Geológico Brasileiro (CPRM), segundo o qual os
rejeitos da extração de minério de ferro da mineradora Vale terão
percorrido cerca de 300 km pela bacia do rio Paraopeba em duas
semanas.
A bacia da rio São Francisco
abrange 505 municípios de seis estados, onde vivem 18 milhões de brasileiros, de acordo com a
Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
Do ponto de vista econômico, o
rio conhecido como "Velho Chico" contribui para geração de energia
hidrelétrica e para a fruticultura irrigada – principalmente no polo
Juazeiro–Petrolina, entre Bahia e Pernambuco, onde se localiza a maior produção
nacional de manga e uva para exportação.
Contexto
A qualidade da água do
São Francisco, que é navegável e poderia matar a sede de milhares de nordestinos
nos próximos anos, está ameaçada pelo rompimento da barragem da Mina do
Feijão.
O vazamento no empreendimento da
Vale aconteceu
no dia 25 de janeiro, e os rejeitos tóxicos atingiram os municípios
mineiros de Juatuba, São José da Varginha e Brumadinho.
"O Brasil não pode aceitar
que desastres como esse aconteçam com tanta frequência. Os danos humanos e
socioambientais são irreparáveis e apontam para uma urgência evidente de que é
preciso repensar os modelos de desenvolvimento que desconsideram o respeito à
natureza, os parâmetros de sustentabilidade. O momento é de solidariedade às
famílias das vítimas e aos atingidos pelo rompimento da barragem, mas não
podemos deixar de falar que a gestão dos recursos hídricos no Brasil está
sucateada”, lamenta Anivaldo Miranda, presidente do Comitê da Bacia
Hidrográfica do rio São Francisco (CBHSF).
Ao todo, a bacia tem uma extensão
de quase 640 mil quilômetros quadrados, entre Minas Gerais, Goiás,
Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe.
Além da importância na economia, por
conta da produção agrícola e de energia, a bacia do rio São Francisco,
com 170 afluentes, garante a sobrevivência da fauna e flora da
região, que compreende três biomas – Mata Atlântica, cerrado e
caatinga.
Alerta
"A tragédia de Mariana foi
em 2015. Em fevereiro de 2018, houve um grande vazamento de rejeitos de bauxita
em Barcarena, no Pará, e agora em Brumadinho. O CBHSF tem se empenhado na
discussão sobre as questões da mineração e, no ano passado, se reuniu com
representantes de outros comitês de bacias hidrográficas de todo o país
para discutir o impacto de grandes tragédias ambientais nos recursos hídricos.
Acredito que só vamos avançar quando envolvermos a população e os poderes
públicos em todas as esferas na discussão desse problema”, acrescenta Miranda.
A massa de rejeitos tóxicos
avança pelo rio Paraopeba, em Minas Gerais, com uma velocidade média de 1 km/h.
Segundo o presidente do Comitê, as dimensões do impacto na bacia do rio São
Francisco vão depender das chuvas. No entanto, "a morte do Rio Paraopeba é um acidente de proporções
planetárias".
Técnicos da Agência Nacional das
Águas (ANA) estiveram nesta terça-feira em Juatuba para acompanhar o
percurso da lama. A Vale informou que tentará conter o avanço dos rejeitos
para impedir que a captação de água em Pará de Minas, localizada a 85 km
da capital mineira, seja prejudica. Ao mesmo tempo, a empresa tenta propor
soluções emergenciais para evitar que os danos se espalhem para além de Minas
Gerais nos próximos dias.
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