Cerca de um terço não sabem se orientação sexual é doença
Um estudo recente
de três pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) evidenciou o
desconhecimento de médicos heterossexuais quanto à homossexualidade.
Visando identificar percepções equivocadas que podem prejudicar o
atendimento de pacientes, Renata Corrêa-Ribeiro, Fabio Iglesias e
Einstein Francisco Camargos questionaram 224 profissionais atuantes no
Distrito Federal, a partir de um roteiro de perguntas formuladas por
estudiosos norte-americanos.
Ao final do experimento, constatou-se que os participantes acertaram,
em média, apenas 11,8 dos itens (65,5% das 18 respostas dadas). Alguns
deles atingiram somente dois acertos.
O número de erros foi maior entre católicos e evangélicos, que indicaram 11,43 alternativas corretas, em média. A pontuação dos médicos que informaram ter outras religiões ou nenhuma foi de 12,42 acertos.
Os participantes tinham, em média, 42 anos de idade, e eram
majoritariamente mulheres (149 profissionais – 66,5%). À época da
aplicação do questionário, a maioria (208 pessoas – 92,9%) exercia a
atividade após concluir a residência médica.
Os autores do artigo, intitulado O que médicos sabem sobre a homossexualidade?
e publicado no início do ano, destacam que a sociedade médica tem
alertado, há algum tempo, para comportamentos de profissionais da
categoria que podem prejudicar o atendimento do segmento LGBTI
(lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersexuais). Com medo de
serem hostilizadas, as pessoas pertencentes a esses grupos podem acabar
deixando, por exemplo, de fazer consultas periódicas, tão importantes na
detecção de doenças em estágio inicial.
Riscos
O estudo constatou problemas como falta de treinamento de
profissionais de saúde, que têm dificuldade de abordar questões
relacionadas à sexualidade, presença de barreiras e práticas
institucionalizadas consideradas preconceituosas. Segundo os autores, a desinformação
dos profissionais de saúde aumenta o risco de adoecimento mental,
suicídio, câncer e de contração de doenças sexualmente transmissíveis.
Em alguns casos, apontou a pesquisa, a rejeição dos profissionais de
saúde leva à evitação ou ao atraso no atendimento, ao ocultamento da
orientação sexual, ao aumento da automedicação ou à busca de informações
fora da rede médica, por meio de farmácias, de revistas, de amigos e da
internet. Alguns pacientes só procuram o médico em situações de
emergência ou em casos extremos, por receio de enfrentarem discursos
homofóbicos, humilhações, ridicularizações e quebra de
confidencialidade.
Erros
A questão que apresentou o maior percentual de erro, ressaltaram os
pesquisadores, foi a 14, que pedia para classificar a informação de que
quase todas as culturas têm mostrado ampla intolerância contra os
homossexuais, considerando como “doentes” ou “pecadores”. Nesse caso,
154 médicos (68,8%) erraram a pergunta e julgaram o item verdadeiro, 37
médicos (16,5%) indicaram-no como falso, acertando a questão, e 33
(14,7%) não souberam responder.
Um total de 34,4% dos entrevistados não soube responder se a homossexualidade
era doença (item 6), 4,9% responderam que sim. O item 10, que afirmava
que uma pessoa se torna homossexual por conta própria, foi considerado
verdadeiro por 32,1% dos médicos, e 13,8% não souberam responder. “Essa
resposta revelou que quase metade dos médicos desconhecia os vários
aspectos biopsicossociais relacionados à homossexualidade e a atribuía
simplesmente a uma escolha feita pelo indivíduo", escreveu o grupo de
cientistas.
Violência contra LGBTI no Brasil
Em 2017, 445 lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais
(LGBTs) foram mortos em crimes motivados por LGBTIfobia. O número, apurado pelo Grupo Gay da Bahia,
é o maior desde o início da série do monitoramento, que começou a ser
elaborado pela entidade há 38 anos. O índice representa um aumento de
30% em relação a 2016.
Pelo mundo, a comunidade LGBTI tem conseguido galgar avanços na
proteção a seus membros contra perseguições e ataques. Em setembro, a Índia descriminalizou a homossexualidade. A despenalização, que tinha como fundamento uma lei britânica de 150 anos, foi garantida por decisão da Suprema Corte do país.
Nenhum comentário :
Postar um comentário