Fonte: Portal UOL
O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad (PT), está em um duelo com o tempo.
"Nós temos três semanas, Jaques, para ganhar essa
eleição", disse Haddad ao ex-governador baiano Jaques Wagner (PT),
candidato ao Senado, durante discurso neste sábado (15) em Vitória da
Conquista (BA).
Haddad talvez não ganhe a eleição nas três semanas
mencionadas a Wagner, mas se esforça para que ao menos os órfãos de Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) o reconheçam como substituto do ex-presidente
nas urnas.
Nesta corrida, Haddad deu poucas horas de intervalo
entre um comício no Rio, na noite de sexta (14), e uma viagem em voo
privado para Vitória da Conquista, a terceira maior cidade da Bahia,
onde saiu pela manhã em carro aberto, entre centenas de militantes.
Por volta das 10h, Haddad subiu na caçamba de uma
caminhonete, sob barulho de rojões, ao lado da mulher, Ana Estela; da
sua companheira de chapa, Manuela D'Ávila (PCdoB); do governador Rui
Costa (PT), favorito à reeleição na Bahia; e de Jaques Wagner.
Em 40 minutos, Haddad sorriu, acenou, apertou as mãos
de eleitores, carregou e abraçou ao menos duas crianças, ganhou uma
bandeira e um boné do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra)
e pareceu pouco à vontade ao arriscar discretos passos de dança ao som
de seu jingle e do de Rui Costa.
Na frente da caminhonete, um trio elétrico servia como
alto-falante para as músicas das campanhas e para que um locutor
exaltasse Haddad como o candidato de Lula. Das janelas dos prédios e das
portas das lojas, moradores e trabalhadores observavam o movimento e
faziam vídeos seus com celulares.
Na passagem por Vitória da Conquista, talvez a
intenção da campanha petista tenha sido fazer Haddad ser mais visto do
que ouvido. Se a viagem em carro aberto durou 40 minutos, o discurso de
Haddad foi de menos de três minutos, feito de dentro da caçamba da mesma
caminhonete que o transportou pela cidade.
Além de pedir votos, o candidato elogiou Lula, dizendo
que "a essa altura, eles já devem ter percebido que prenderam o cara
errado" -- usando o "eles" sem nomes, como o ex-presidente costumava
fazer em seus discursos para falar de seus adversários.
"Ele é muito pouco conhecido"
O esforço de Haddad tem endereço certo. O PT venceu
eleições para prefeito em Vitória da Conquista cinco vezes seguidas --
perdeu em 2016 -- e deu maioria a Lula em 2002 e 2006. Ao mesmo tempo,
militantes que foram ver o candidato na cidade reconheceram que ele
ainda não é tão conhecido por ali.
"Haddad aqui, ele é muito pouco conhecido. Depois que
veio o negócio da [Lei da] Ficha Limpa, que Lula realmente não pôde se
candidatar, é que veio à tona quem é Haddad, as propostas dele, o que
ele quer fazer pela população, e estamos confiantes que ele seja o nosso
Lula", disse Noélia Medrado, que trabalhava em uma fábrica de calçados e
está desempregada.
O encarregado de obras Ronaldo Bispo, que se declarou
petista, relatou que a população local ainda "não conhece muito" Haddad,
mas sabe que ele foi ministro da Educação no governo Lula e prefeito de
São Paulo.
O mandato como ministro é uma das frentes da campanha
petista para vincular Haddad a Lula, e os apoiadores deixaram clara a
diferença que faz a indicação do ex-presidente.
"Tenho a esperança e a confiança que ele vai ser bom.
Veio através de Lula, então a gente já tem aquela confiança nele, né?",
disse a aposentada Theresa Santos.
Para o também aposentado Germino Ribeiro, o fato de
Haddad ser o indicado de Lula "é o suficiente" para o ex-ministro
merecer apoio. "Lula podia botar outro qualquer que ganhava a eleição",
afirmou.
Após o ato em carro aberto, perguntado por jornalistas
sobre o fato de eleitores ainda errarem o seu nome e o chamarem de
"Andrade", Haddad respondeu apenas que vê isso "com naturalidade".
Datafolha
O Datafolha de sexta (11)
trouxe bons números para Haddad, mas também mostrou o caminho a ser
percorrido. Ele passou a ser conhecido por 65% do eleitorado, contra 59%
da pesquisa anterior, e seu patamar de intenção de voto subiu de 9%
para 13%.
No Nordeste, principal reduto lulista, 43% disseram que não o conhecem, contra 17% para Ciro Gomes (PDT) -- com quem empatou numericamente em intenções de voto no Datafolha e disputa o espólio eleitoral de Lula.
Não por acaso, Haddad sabe que, se quer ser visto como
o representante de Lula, precisa circular pelo país, mas também não
pode se descolar do ex-presidente. Na segunda-feira (17), após a
sabatina promovida por UOL, Folha e SBT, ele deve visitar Lula na prisão, em Curitiba.
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