Como um teatro, Método Giraldi simula crimes para preparar PMs a situações com tiro defensivo.
A cabo Kátia da Silva Sastre, de 42 anos, que reagiu a uma tentativa de assalto no sábado (12) pela manhã, atirando e matando um ladrão em frente à escola da filha em Suzano, na Grande São Paulo, seguiu rigorosamente o procedimento operacional padrão (POP), segundo a Polícia Militar (MP). Na avaliação da corporação, ela agiu corretamente para evitar o crime, sem colocar em risco quem estava perto.
A PM paulista segue o Método Giraldi, um treinamento especializado que
condiciona o policial a disparar somente em "última circunstância, para
preservar a vida do PM e das pessoas ao redor".
Criado pelo coronel aposentado da PM Nilson Giraldi, o método é
reconhecido pelas Nações Unidas e replicado em várias polícias do país.
Ministrados em São Paulo desde o fim da década de 1990, os treinos
simulam situações reais que os policiais podem enfrentar no dia a dia,
como se fosse um teatro. Entre as "cenas" simuladas estão pistas com
situações de risco, como roubo com reféns, tiroteios, perseguição a pé,
de carro e em moto, entrada tática em uma casa atrás de um criminoso
armado e em favelas.
Durante o treinamento e a preparação do policial para ir às ruas, mais
de 500 disparos são realizados. O objetivo é criar “reflexos
condicionados positivos, a ser obtidos pelo policial em treinamentos que
imitam a realidade”, diz o manual da PM.
Reflexos rápidos como os que a cabo Kátia apresentou no sábado. "Ela
agiu de forma extremamente racional, isso significa que ela estava
extremamente preparada", disse o coronel Álvaro Camilo, ex-comandante da
Polícia Militar de SP.
"Ela seguiu o Método Giraldi, que preconiza que o policial deve se
manter vivo e voltar para casa. Caso contrário, você não consegue salvar
a vida dos outros e morre todo mundo junto", afirmou.
O manual do método também preconiza que o policial precisa "usar sempre
a razão, não se deixar levar pela emoção". "Ensinar o policial a não se
precipitar: a precipitação pode matar pessoas inocentes, incluindo o
policial, e tirar a liberdade do policial".
Disparos até cessar a agressão
Outro preceito do treinamento é o uso gradativo da força. "O método diz
que o policial deve dar dois tiros e, se precisar, realizar mais dois
disparos. Ela realizou três disparos e, com o infrator dominado, cessou o
uso da força. Ela parou no momento certo. Imobilizou e parou de
atirar", disse o ex-comandante da PM.
Segundo o manual elaborado pelo coronel Giraldi, a arma do policial “só
pode ser disparada em situações em que se torne necessário e
indispensável; uma medida extrema; o último recurso”. O objetivo é
preservar a vida do policial e das pessoas próximas, evitando o que é
chamado de “danos colaterais” (pessoas feridas ou mortas por erros em
uma ação).
Ensinar o policial a não se precipitar: a precipitação pode matar pessoas inocentes incluindo o policial, tirar a liberdade do policial. Não praticar a valentia perigosa: é loteria, poderá transformar o policial num herói, ou num defunto, ou num presidiário. (Trecho do Método Giraldi)
Reação rápida
As imagens do caso envolvendo a cabo Kátia repercutiram neste final de
semana porque a reação da policial foi muito rápida. No domingo (13), a policial foi homenageada pelo governador de São Paulo, Márcio França.
“Ela teve 5 segundos para agir praticamente. Ela decidiu corretamente,
seguindo a orientação que existe sobre quando e como utilizar a arma,
mesmo estando de folga”, afirma o coronel José Vicente da Silva Filho,
ex-secretário Nacional de Segurança Pública.
O secretário de Segurança, Mágino Alves, também defendeu a ação da PM.
“Ela afastou as crianças, se aproximou do ladrão. Ela faz o disparo, o
rapaz atira, o rapaz tenta pegar a perna dela, imobiliza o rapaz e liga o
190. Foi um procedimento perfeito do ponto de vista técnico”, afirmou.
Ensinar o policial a usar sempre a razão, não se deixar levar pela emoção (Trecho do Método Giraldi)
Kátia tem mais de 20 anos como policial, é casada com um tenente da PM e
mãe de duas meninas, de 2 e 7 anos, que estavam também em frente à
escola. Ela diz que agiu com base nos treinamentos que recebeu na
corporação. “Minha preocupação foi que minha intervenção fosse mais próxima a ele. Cessar a agressão dele de forma que não machucasse ninguém”, afirmou ela.
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