segunda-feira, 14 de maio de 2018

PM que reagiu e matou ladrão em frente a escola seguiu treinamento para ações de risco criado em SP

Como um teatro, Método Giraldi simula crimes para preparar PMs a situações com tiro defensivo. 

A  cabo Kátia da Silva Sastre, de 42 anos, que reagiu a uma tentativa de assalto no sábado (12) pela manhã, atirando e matando um ladrão em frente à escola da filha em Suzano, na Grande São Paulo, seguiu rigorosamente o procedimento operacional padrão (POP), segundo a Polícia Militar (MP). Na avaliação da corporação, ela agiu corretamente para evitar o crime, sem colocar em risco quem estava perto.

A PM paulista segue o Método Giraldi, um treinamento especializado que condiciona o policial a disparar somente em "última circunstância, para preservar a vida do PM e das pessoas ao redor".
Criado pelo coronel aposentado da PM Nilson Giraldi, o método é reconhecido pelas Nações Unidas e replicado em várias polícias do país.

Ministrados em São Paulo desde o fim da década de 1990, os treinos simulam situações reais que os policiais podem enfrentar no dia a dia, como se fosse um teatro. Entre as "cenas" simuladas estão pistas com situações de risco, como roubo com reféns, tiroteios, perseguição a pé, de carro e em moto, entrada tática em uma casa atrás de um criminoso armado e em favelas.
Durante o treinamento e a preparação do policial para ir às ruas, mais de 500 disparos são realizados. O objetivo é criar “reflexos condicionados positivos, a ser obtidos pelo policial em treinamentos que imitam a realidade”, diz o manual da PM.
Reflexos rápidos como os que a cabo Kátia apresentou no sábado. "Ela agiu de forma extremamente racional, isso significa que ela estava extremamente preparada", disse o coronel Álvaro Camilo, ex-comandante da Polícia Militar de SP.
"Ela seguiu o Método Giraldi, que preconiza que o policial deve se manter vivo e voltar para casa. Caso contrário, você não consegue salvar a vida dos outros e morre todo mundo junto", afirmou.
O manual do método também preconiza que o policial precisa "usar sempre a razão, não se deixar levar pela emoção". "Ensinar o policial a não se precipitar: a precipitação pode matar pessoas inocentes, incluindo o policial, e tirar a liberdade do policial".

Disparos até cessar a agressão

Outro preceito do treinamento é o uso gradativo da força. "O método diz que o policial deve dar dois tiros e, se precisar, realizar mais dois disparos. Ela realizou três disparos e, com o infrator dominado, cessou o uso da força. Ela parou no momento certo. Imobilizou e parou de atirar", disse o ex-comandante da PM.
Segundo o manual elaborado pelo coronel Giraldi, a arma do policial “só pode ser disparada em situações em que se torne necessário e indispensável; uma medida extrema; o último recurso”. O objetivo é preservar a vida do policial e das pessoas próximas, evitando o que é chamado de “danos colaterais” (pessoas feridas ou mortas por erros em uma ação).
Ensinar o policial a não se precipitar: a precipitação pode matar pessoas inocentes incluindo o policial, tirar a liberdade do policial. Não praticar a valentia perigosa: é loteria, poderá transformar o policial num herói, ou num defunto, ou num presidiário. (Trecho do Método Giraldi)

Reação rápida

As imagens do caso envolvendo a cabo Kátia repercutiram neste final de semana porque a reação da policial foi muito rápida. No domingo (13), a policial foi homenageada pelo governador de São Paulo, Márcio França.
“Ela teve 5 segundos para agir praticamente. Ela decidiu corretamente, seguindo a orientação que existe sobre quando e como utilizar a arma, mesmo estando de folga”, afirma o coronel José Vicente da Silva Filho, ex-secretário Nacional de Segurança Pública.
O secretário de Segurança, Mágino Alves, também defendeu a ação da PM. “Ela afastou as crianças, se aproximou do ladrão. Ela faz o disparo, o rapaz atira, o rapaz tenta pegar a perna dela, imobiliza o rapaz e liga o 190. Foi um procedimento perfeito do ponto de vista técnico”, afirmou.
Ensinar o policial a usar sempre a razão, não se deixar levar pela emoção (Trecho do Método Giraldi)
Kátia tem mais de 20 anos como policial, é casada com um tenente da PM e mãe de duas meninas, de 2 e 7 anos, que estavam também em frente à escola. Ela diz que agiu com base nos treinamentos que recebeu na corporação. “Minha preocupação foi que minha intervenção fosse mais próxima a ele. Cessar a agressão dele de forma que não machucasse ninguém”, afirmou ela. 

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