Condenado à prisão perpétua na Itália, Battisti é um dos
últimos protagonistas da violência dos anos 1970 no país.
Por G1
Cesare Battisti, italiano condenado por homicídios e
que foi preso no sábado (12) na Bolívia, passou cerca de 40 anos de sua
vida em fuga quase permanente, com períodos de prisão e lutas político-judiciais
para evitar a Justiça da Itália.
Ele está sendo levado para a Itália, onde autoridades o
aguardam.
Condenação
Condenado à revelia à prisão perpétua na Itália, Battisti,
de 64 anos, Battisti é acusado de ter cometido quatro assassinatos na
Itália entre 1978 e 1979: contra um guarda carcerário, um agente de polícia, um
militante neofascista e um joalheiro de Milão (o filho do joalheiro ficou
paraplégico, depois de também ser atingido).
Na época, Battisti integrava a organização Proletários
Armados Pelo Comunismo. Ele nega envolvimento nos homicídios e se diz vítima de
perseguição política.
Battisti passou por México, França e Brasil, onde a Justiça
rejeitou em um primeiro momento sua extradição para a Itália para depois
autorizá-la.
A Itália quer punir um dos últimos protagonistas dos
"anos de chumbo" de violência dos anos 1970.
Luta armada (1970)
Battisti, um poliglota de voz suave e conhecido por suas
polêmicas, nasceu no sul de Roma em 18 de dezembro de 1954 em uma família
comunista, mas também católica, como ele.
Após passar várias vezes pela prisão por crimes comuns, no
final dos anos 1970 entrou para a luta armada dentro do grupo Proletários
Armados Pelo Comunismo (PAC).
"Tentar mudar a sociedade com as armas é uma estupidez,
mas bom, naquela época todo mundo tinha pistolas", declarou em 2011.
"Havia guerrilheiros no mundo inteiro, a Itália vivia uma situação
pré-revolucionária", acrescentou.
Fuga e refúgio na França (1981 - 2004)
Após ser detido em Milão, Battisti foi preso em 1979 e fugiu
em 1981. Em 1993, foi condenado à revelia à prisão perpétua por dois homicídios
e por cumplicidade em outros dois, cometidos em 1978 e 1979, crimes dos quais
diz ser inocente.
Depois de passar pelo México, encontrou refúgio na França
entre 1990 e 2004, graças à proteção do ex-presidente socialista François
Mitterrand, que se comprometeu a não extraditar nenhum militante de extrema
esquerda que tivesse renunciado à luta armada.
Assim como uma centena de militantes italianos dos anos
1970, Battisti refez sua vida em Paris.
Trabalhou como vigia em um prédio e começou a escrever e
publicar uma dezena de romances policiais com muitos elementos autobiográficos,
que abordam temas como a redenção ou o exílio de ex-militantes extremistas.
Vinda ao Brasil e prisão (2004 - 2007)
Em 2004, o governo de Jacques Chirac decidiu pôr fim à
"jurisprudência Mitterrand" e extraditá-lo.
Apesar do apoio de várias personalidades, como o romancista
Fred Vargas e o filósofo Bernard-Henri Levy, a Justiça francesa recusou o
recurso contra a extradição. Battisti, então, fugiu para o Brasil com uma
identidade falsa, segundo ele, com ajuda dos serviços secretos franceses.
Depois de três anos vivendo na clandestinidade, em 2007
foi detido no Rio de Janeiro e ficou quatro anos na prisão, onde fez uma
greve de fome porque dizia preferir morrer no Brasil a voltar para a Itália.
"Escrever para não me perder na névoa dos dias
intermináveis, repetindo-me que não é verdade. Que não sou eu esse homem que os
meios transformaram em monstro e reduziram ao silêncio das sombras", diz
em "Minha fuga sem fim", livro escrito no cárcere.
Idas e vindas na Justiça brasileira (2009 - 2019)
Em 2009, o Supremo Tribunal Federal autorizou sua
extradição, mas deixou a decisão final nas mãos do então presidente Lula, que
acabou rejeitando a extradição. Em represália, a Itália chamou a consultas seu
embaixador em Brasília.
Em junho de 2011, Battisti foi libertado e conseguiu
obter a residência permanente no Brasil. Instalou-se em Cananeia, litoral sul
de São Paulo, onde continuou escrevendo e reconstruiu sua vida.
Pai de duas filhas adultas na França, Battisti conheceu uma
jovem professora brasileira, com quem teve um filho, Raul, atualmente com cinco
anos.
O nascimento do filho no país era um dos argumentos usados
por sua defesa para impedir sua extradição, como ele próprio explicou à AFP em
entrevista concedida em 2017 em sua casa em Cananeia, com o pequeno sentado ao
seu lado.
Em 2015, uma juíza da 20ª Vara Federal do Distrito Federal
determinou a deportação de Battisti. No mesmo ano, ele se casou com outra
brasileira, Joice Lima, em Cananeia.
Dois anos depois, foi detido em Corumbá (MS), na
fronteira da Bolívia, acusado de querer fugir, e foi mantido monitorado com
tornozeleira eletrônica por quatro meses.
Em outubro passado, foi eleito o presidente Jair Bolsonaro,
que prometeu extraditá-lo. Em dezembro, o ex-presidente Michel Temer
autorizou sua extradição após o ministro do STF Luiz Fux determinar a
prisão do italiano. Battisti voltou à clandestinidade e neste
sábado (12), foi preso em Santa Cruz de la Sierra, leste da Bolívia.
Battisti foi entregue neste domingo (13) por autoridades
bolivianas a agentes italianos em Santa Cruz, de onde partiu rumo à Itália em
um avião especial, que chegou de Roma mais cedo.
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