Preso há cinco meses e quatro dias, Lula emite os primeiros sinais de
abatimento. Na avaliação de um dirigente do PT, o desânimo não foi
provocado pela prisão longeva, mas pela troca compulsória do figurino de
candidato pelo de cabo eleitoral de Fernando Haddad. A despeito do
baque, Lula comanda desde a cadeia cada detalhe da própria substituição,
a começar pela escolha do cenário. Deslocou o palco de São Paulo para
Curitiba.
A profusão de recursos judiciais revelou-se inútil.
Embora ainda sonhe com o milagre da obtenção de uma liminar de última
hora no Supremo, Lula reconheceu que sua candidatura está no buraco. E
autorizou Haddad a substitui-lo antes que a Justiça Eleitoral comece a
jogar terra em cima nesta terça-feira, quando vence o prazo para a
troca.
O eleitor de Lula já havia farejado o movimento, informa o Datafolha. Na
primeira pergunta de sua nova pesquisa, o instituto pediu aos
entrevistados que dissessem espontaneamente o nome do presidenciável
preferido. As menções a Lula despencaram 11 pontos. Na pergunta
estimulada, quando o pesquisador exibe um cartão com os nomes dos
candidatos, o preso de Curitiba foi excluído. E o pupilo Haddad saltou
de 4% para 9% antes mesmo da formalização da troca.
Haddad entrou
automaticamente na briga pela vaga de adversário de Jair Bolsonaro no
segundo turno. De acordo com a pesquisa, Haddad, Ciro Gomes, Marina
Silva e Geraldo Alckmin estão tecnicamente empatados no intervalo entre
9% a 13% das preferências do eleitorado.
Embora tenha colecionado
novos eleitores, subindo cinco pontos na pesquisa em apenas 20 dias,
Haddad não ignora que o único eleitor capaz de levá-lo ao segundo round
está preso em Curitiba. E Lula cuidará para que ele não esqueça a origem
dos seus votos.
Assim como os filmes, as biografias também têm
suas trilhas sonoras. Lula escolheu sua música num discurso palaciano de
2007. Exercia seu primeiro reinado. Evocou Raul Seixas: “…Eu prefiro
ser considerado uma metamorfose ambulante, ou seja, estar mudando na
medida em que as coisas mudam.”
A mudança atual não chega a ser
original. No mesmo papel de carregador de postes, Lula já revelou uma
força de estivador. Fez isso duas vezes com Dilma Rousseff em âmbito
nacional. Repetiu o feito com o próprio Haddad, na seara municipal.
Fracassou na reeleição de Haddad para o posto de prefeito de São Paulo.
Pela primeira vez, testa seu poder de transferência de votos como cabo
eleitoral preso.
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