Uma das expressões mais fortes da cultura
brasileira, a Literatura de Cordel foi transformada em Patrimônio
Cultural Imaterial do Brasil. A decisão foi tomada na tarde de
quarta-feira (19), em reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio
Cultural – órgão colegiado de decisão máxima do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O registro foi aprovado por
unanimidade. A reunião do Conselho aconteceu no Forte de Copacabana, no
Rio de Janeiro, e contou com a presença do Ministro da Cultura, Sérgio
Sá Leitão, da presidente do Iphan, Kátia Bogéa e do presidente da
Academia Brasileira de Literatura de Cordel, Gonçalo Ferreira.
Manifestação cultural que extrapola os versos e
rimas escritas, abrangendo cantoria e ilustração, o cordel é veículo de
comunicação e meio de sobrevivência para poetas, declamadores,
xilogravadores e folheteiros (como são conhecidos os vendedores de
livros). É nesse contexto que a poeta e presidente da Academia
Norte-Riograndense de Literatura de Cordel, Tonha Mota, avalia como uma
vitória o reconhecimento dado pelo Iphan.
“É uma conquista de todos que fazem cordel. Isso mostra que nossa resistência, nosso esforço em manter viva essa expressão não foi em vão”, diz a poeta, que também é uma das fundadoras da Estação Cordel (Cidade Alta). “Quem faz cordel sabe das dificuldades que se tem para divulgar o trabalho”.
Cordelista e fundador da Casa do Cordel (Cidade
Alta), Abaeté comemora a decisão do Iphan, mas sem muito entusiasmo. Ele
prefere ver como as coisas vão se desenrolar daqui pra frente. “É um
reconhecimento tardio, mas não deixa de ser importante. Desejo que daqui
pra frente se coloque o cordel em um lugar de destaque”, comenta o
poeta.
Tonha Mota e Abaeté acreditam que com a salvaguarda
do Iphan, a Literatura de Cordel passe a ser vista sem preconceito e,
nesse sentido, ganhe políticas públicas de valorização da produção.
“Espero que o Cordel entre com mais peso na pauta do Ministério da
Cultura e que as universidades se abram mais para esse tipo de
literatura, tratando com seriedade”, conta Tonha.
Abaeté complementa a crítica ao meio acadêmico. “Nas escolas de Natal já temos bastante penetração. O cordel faz parte do material de algumas disciplinas. Nossa barreira é nas universidades. Alguns acadêmicos mostram resistência à gêneros populares, fazendo uma divisão entre erudito e popular. Talvez, pelo cordel envolver analfabetos, fosse uma literatura menor”, reflete o poeta. Para ele, tão importante quanto preservar o cordel, é promover ações que viabilizem maior comercialização das publicações. “Valorizar é o que a gente faz todo dia com a Casa do Cordel. O que eu gostaria do Governo era que ele comprasse mais cordéis como se faz com os livros”.
O Cordel
Originário do Norte e Nordeste do país, o cordel
hoje é disseminado por todo o Brasil, principalmente nos estados da
Paraíba, Pernambuco, Ceará, Maranhão, Pará, Rio Grande do Norte,
Alagoas, Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Distrito Federal, Rio de Janeiro e
São Paulo. Segundo texto do Iphan, é uma expressão cultural que abrange
não apenas as letras, mas também a música e a ilustração. “É um gênero
literário, veículo de comunicação, ofício e meio de sobrevivência para
inúmeros cidadãos brasileiros.
Poetas, declamadores, editores, ilustradores
(desenhistas, artistas plásticos, xilogravadores) e folheteiros (como
são conhecidos os vendedores de livros)”, diz pesquisa do órgão, que
ainda aponta o cordel como manifestação importante por revelar o
imaginário coletivo, a memória social e o ponto de vista dos poetas
sobre acontecimentos vividos ou imaginados.
Acervo de Bispo do Rosário é tombado
O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural também decidiu por unanimidade tornar o acervo do artista sergipano Arthur Bispo do Rosário Patrimônio Cultural Material do Brasil. O acervo é composto de 805 peças, dentre estandartes, indumentárias, vitrines, fichários, móveis, objetos (recobertos com fio azul ou não) e vagões de espera.
Bispo do Rosário (1909-1989) ganhou destaque
no mundo da arte contemporânea sem querer. Diagnosticado como portador
de esquizofrenia-paranoide, ele produzia suas obras sem interesses
culturais, apenas seguindo as vozes que o ordenavam a reconstruir o
mundo a sua volta – o que suscitou debates sobre os limites entre a arte
e a loucura.
Novos tombamentos
Nesta quinta-feira (20), o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural se reúne novamente para avaliar novos pedidos de tombamento imaterial. São eles, a Procissão do Senhor dos Passos, de Florianópolis (SC), o Sistema Agrícola Tradicional das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira (SP), os terreiros de candomblé Ilê Obá Ogunté Sítio Pai Adão, em Recife (PE), e a Tumba Junsara, em Salvador (BA).
Nesta quinta-feira (20), o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural se reúne novamente para avaliar novos pedidos de tombamento imaterial. São eles, a Procissão do Senhor dos Passos, de Florianópolis (SC), o Sistema Agrícola Tradicional das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira (SP), os terreiros de candomblé Ilê Obá Ogunté Sítio Pai Adão, em Recife (PE), e a Tumba Junsara, em Salvador (BA).
(*) Com informações da Agência Brasil
Nenhum comentário :
Postar um comentário