Tema está em discussão pela cúpula do Senado e
 tem como objetivo diminuir o desgaste de senadores que pretendem 
reverter a suspensão das funções parlamentares do tucano

Senadores intensificaram a articulação por uma votação secreta para
 deliberar sobre as medidas cautelares e o afastamento impostos ao 
senador Aécio Neves (PSDB-MG). O tema está em discussão pela cúpula do 
Senado e tem como objetivo diminuir o desgaste de senadores que 
pretendem reverter a suspensão das funções parlamentares do tucano.
A
 votação no plenário da Casa está marcada para a próxima terça-feira. 
Por 6 votos a 5, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) 
decidiram na quarta-feira, 11, que medidas cautelares, como o 
recolhimento noturno, determinadas a deputados federais e senadores 
devem ser submetidas ao aval da Câmara ou do Senado.
O
 regimento interno do Senado prevê votação secreta para deliberação 
sobre prisão de parlamentar. Na semana passada, a Coluna do Estadão já 
havia adiantado que senadores debatiam a possibilidade de tornar a 
votação sigilosa. A Constituição, porém, não diz que modelo deve ser 
adotado. Até 2001, o artigo 53 estabelecia votação secreta - a expressão
 foi suprimida pela Emenda Constitucional 35.
Segundo
 um integrante da Mesa Diretora do Senado, a votação será como determina
 o regimento - ou seja, fechada. Reservadamente, um ministro do Supremo 
disse ao jornal O Estado de S. Paulo que, como a regra interna da Casa 
determina o modelo de votação, há espaço para tal interpretação.
"Seguir
 o regimento e a Constituição, e respeitar e proclamar o resultado livre
 do plenário, que é soberano, é meu dever como presidente (do Senado)", 
disse Eunício Oliveira (PMDB-CE) ao comentar a discussão sobre o sigilo 
da deliberação. A senadora Fátima Bezerra (PT-RN) criticou a articulação
 na Casa: "Eu espero que não haja nenhuma manobra e o voto seja aberto."
No
 caso da prisão do senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS), em 
novembro de 2015, o então presidente do Senado, Renan Calheiros 
(PMDB-AL), tentou realizar a votação de forma sigilosa. Parlamentares, 
no entanto, reagiram e entraram com um mandado de segurança contra a 
iniciativa. 
O pedido foi deferido pelo 
ministro Edson Fachin com base na Emenda Constitucional 35. "Não havendo
 menção no art. 53, § 2.º, da Constituição, à natureza secreta da 
deliberação ali estabelecida, há de prevalecer o princípio democrático 
que impõe a indicação nominal do voto dos representantes do povo", 
escreveu Fachin na decisão. Na ocasião, Aécio apoiou o entendimento do 
Supremo.
Para o líder do PMDB no Senado, 
Raimundo Lira (PB), não está claro se o caso de Delcídio definiu uma 
regra para as próximas votações. "Não posso dizer com absoluta certeza 
que aquela votação definiu um padrão a ser seguido ou se precisa, em 
cada caso, ser revertido o voto secreto em voto aberto', afirmou.
O
 professor de Direito Constitucional Paulo de Tarso Neri, porém afirmou 
que "a regra é a votação aberta". "Só se permite voto secreto quando o 
texto expressamente diz que deve ser secreto', disse. "Já houve votações
 abertas na Câmara. Por exemplo, a cassação de Eduardo Cunha. Se até a 
cassação, que é muito mais grave, é aberta, votação menos gravosa também
 tem de ser transparente."
Oposição
Senadores
 da oposição - que são minoria e defendem punição a Aécio - dizem que 
dificilmente a Casa vai manter as medidas cautelares impostas ao senador
 tucano. Para Randolfe Rodrigues (Rede-AP), há um acordo de proteção ao 
tucano firmado entre PMDB e PSDB. Pelas suas contas, os votos pela 
manutenção das medidas impostas a Aécio podem chegar a 30 senadores caso
 o PT feche questão pelo afastamento do tucano.
Após
 o mal-estar causado pela nota em que o PT criticou a decisão do Supremo
 em relação a Aécio, o líder da minoria no Senado, Humberto Costa 
(PT-PE), afirmou que sua bancada deve votar unida para manter o tucano 
afastado do cargo. "O Senado vai ter de entrar no mérito da discussão. 
Agora nós vamos discutir se as coisas que têm contra o Aécio justificam 
ou não essa recomendação do Supremo. Eu vou defender que nós votemos 
para seguir a recomendação", disse Costa.
Com 
nove inquéritos abertos no Supremo, Aécio foi afastado do mandato e 
submetido ao recolhimento domiciliar noturno por decisão da Primeira 
Turma do Supremo no dia 26 de setembro com base no relato dos delatores 
do Grupo J&F.
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