Pelas dimensões envolvidas, o buraco em termos de oferta de energia
não chega a ser relevante, mas revela um problema curioso. Para fazer a
gestão do sistema, o ONS não leva em conta a potência nominal das usinas
eólicas, mas o "fator de capacidade" de cada uma delas. Isso nada mais é
do que a estimativa mínima de produção efetiva de energia, com base na
expectativa dos ventos disponíveis e dos equipamentos usados. Quanto
mais altas as torres e mais longas as pás, maior a geração de
eletricidade.
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Élbia
Melo, presidente da Abeólica: responsabilidade não é da falta de ventos
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Quando se leva em consideração esse fator de capacidade, a
perspectiva era ter 445,6 megawatts médios dos 28 parques eólicos no ano
passado - o equivalente ao de uma hidrelétrica de médio porte. Como 16
não produziram o mínimo que se esperava deles, a geração efetiva acabou
ficando em 433 MW médios. Alguns, como o parque Sete Gameleiras (BA),
chegaram a gerar quase um terço a menos. No balanço final, a diferença
entre o esperado e o verificado não foi tão grande assim, já que muitas
usinas produziram acima do aguardado.
A presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica),
Élbia Melo, não culpa a falta de ventos e ressalta a necessidade de
separar dois momentos diferentes. Um é o Proinfa, programa de incentivo
às fontes alternativas de energia, criado em 2004 e que dava subsídios à
fonte eólica para promovê-la na matriz. Outro momento é o da
contratação de usinas eólicas, via leilões do governo, pelo menor preço.
A partir de 2009, as eólicas entraram com tudo nos leilões,
garantindo boa parte da oferta disponível nos últimos certames e
alcançando tarifa perto de R$ 100 por megawatt-hora. As usinas licitadas
no ano passado, por exemplo, têm 120 metros de altura e aerogeradores
com 3 MW de potência. Precisam se comprometer com uma geração mínima - a
chamada "garantia física" - e repor a eletricidade não produzida, por
meio de compras no mercado de curto prazo, caso não entreguem o
prometido. Esses parques eólicos, segundo Élbia, têm produzido mais que o
previsto.
No caso do Proinfa, a própria executiva reconhece que a geração
efetiva "não foi muito boa" no ano passado. Até o fim da década passada,
as usinas contratadas pelo programa só precisavam ter licença ambiental
e projetos aprovados pela Aneel para ter garantia de compra da energia.
Recebiam pelo volume de eletricidade produzida, mas sem nenhuma
penalidade em caso de frustração de expectativa. Por isso, são bem menos
eficientes.
O Proinfa custa cerca de R$ 2,5 bilhões por ano e é bancado pelos
consumidores, por meio de encargo cobrado nas contas de luz, em torno de
0,5% da tarifa.
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