“Faz um Pix aí” ou “Aceitamos Pix”. Essas duas frases, sem dúvida,
entraram na realidade do povo brasileiro há quase um ano e não devem
sair do cotidiano nem tão cedo. O sistema de pagamentos instantâneo,
adotado em novembro do ano passado pelo Banco Central, rapidamente se
espalhou por todas as classes sociais e nos dias atuais é até raro ver
quem não tem uma chave cadastrada. No Rio Grande do Norte, desde que o
Pix começou a ser adotado, foram R$ 18,558 bilhões em transações
financeiras, o que deixou o RN em 5° entre os estados do Nordeste e o 7°
entre os do Norte Nordeste em valores transferidos. Em número de
transações, a situação também é parecida: 38.564.753 “Pixs” foram feitos
no Estado entre novembro e junho deste ano.
As estatísticas foram compilados pela agência de dados “Fiquem
Sabendo” por meio da Lei de Acesso à Informação. No Brasil, os
pagamentos instantâneos movimentaram mais de R$ 1,6 trilhão. O volume de
operações feitas por Pix, cerca de 2,4 bilhões, é quase três vezes
maior que o
total de transferências realizadas por TED e DOC, que tiveram, respectivamente, 99 milhões e 743 milhões de transações.
Nos
primeiros 45 dias de uso da plataforma, lançada efetivamente no dia 16
de novembro do ano passado pelo Banco Central, as pessoas no Rio Grande
do Norte fizeram 2.240.145 transações Pix, o que gerou uma movimentação
financeira de R$ 1.667.261.272,92. No primeiro semestre de 2021, o
número de transações disparou indo a 36.324.608. A movimentação
financeira registrada atingiu mais de R$ 16,890 bilhões.
Com
um sistema de transações financeiras instantâneas, em que as pessoas
cadastram “chaves” utilizando os números do celular, CPF ou CNPJ,
endereço de e-mail do usuário, e até chaves aleatórias (sequência
alfanumérica gerada aleatoriamente), o Pix atualmente está sendo
utilizado tanto por trabalhadores informais, pequenos comerciantes,
vendedores, motoristas de aplicativo e táxi e até por grandes empresas.
Mesmo com essa situação, o especialista José Luiz Rodrigues, membro do
Conselho da ABFintechs (Associação Brasileira de Fintechs), aponta que
há ainda resistência entre grandes empresas para usar o Pix.
“A
questão envolve tarifas. As instituições podem cobrar mais taxas, até
porque são transações em maior volume e com valores maiores do que as
realizadas por pessoas físicas, de forma geral. Mas esse debate sobre os
custos do Pix ainda está em alta, tanto para quem fornece o serviço,
quanto para quem o utilizará, porque o Pix receberá novas
funcionalidades em um futuro próximo. O Banco Central já anunciou que
haverá uma série de gratuidades em alguns serviços, enquanto define
outros parâmetros tarifários”, explica o especialista em regulação da JL
Rodrigues & Consultores Associados.
Brasil
Entre
os primeiros dois meses de 2020 (novembro e dezembro) e os seis
primeiros meses de 2021, os estados que mais fizeram operações Pix em
quantidade foram São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e Rio
Grande do Sul, somando 1.393.657.666 operações, 56% do que foi feito em
todo o Brasil, que foi de 2.460.116.975. Juntos, eles movimentaram valor
superior a R$ 1,015 trilhão. O total movimentado no Brasil no ano
passado foi de R$ 1,6 trilhão.
Mais popular entre jovens
Uma
pesquisa da ONG Zetta feita em parceria com o DataFolha, divulgada
nesta semana, constatou que a penetração das chaves Pix é maior entre os
mais jovens (70%). O índice cai para 24% entre pessoas de 60 a 70 anos.
A pesquisa constatou também que o Pix possui mais adeptos entre pessoas
com Ensino Superior (77% contra 30% dos respondentes com Ensino
Fundamental).
Aliado a isso, o estudo
constatou que a inserção do Pix diminui conforme a renda familiar. Entre
os brasileiros que recebem até dois salários mínimos e meio, a adesão é
de apenas 31%, e de 75% entre aqueles que ganham mais de cinco salários
mínimos. A pesquisa ouviu 1.520 homens e mulheres, com idades de 18 a
70 anos, de todas as classes econômicas, entre os dias 25 de maio e 10
de junho, em todo o Brasil.
Pix conquista de lojistas a informais
Do
carrinho que vende açaí e sorvete à loja de eletrodomésticos e até
concessionária de motos e carros. O Pix adentrou o cotidiano da economia
norteriograndense e brasileira e cada vez mais aumenta o número de
usuários que aceitam o pagamento por meio das chaves instituídas pelo
Banco Central. Há casos, inclusive, de lojistas que dão descontos para
pessoas que pagam à vista através do Pix.
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE visitou vários lugares nos
corredores comerciais de Natal durante esta semana para observar a
dinâmica do uso do Pix por consumidores e comerciantes. Mesmo com a
plataforma tendo sido criada há quase um ano, há empresas que só vieram
aderir ao uso do Pix recentemente. Na Cidade Alta, um dos maiores
centros comerciais de Natal, é bastante comum observar placas,
logomarcas, desenhos e até grafias das mais rústicas às mais elaboradas
para anunciar que aquele estabelecimento aceita o Pix.
A
vendedora de salgados e lanches Silvana Silva dos Anjos, 49 anos,
passou a adotar a funcionalidade há cinco meses. Ela imprimiu uma placa e
colocou no seu espaço em que diz: “aceitamos Pix. Por favor, envie o
comprovante pelo WhatsApp”, informando aos que lancham no local sobre
essa possibilidade do pagamento.
“As pessoas
usam mais o Pix do que o dinheiro e também a maquininha do cartão.
Acredito que é interessante porque tem muita gente que não anda com
dinheiro. Com o Pix é mais rápido, o dinheiro já vem para minha conta.”,
comenta. Segundo ela, 60% de suas vendas hoje são através do Pix.
A
vendedora de açaí e sorvetes Marleide Freire, 42 anos, também resolveu
adotar a funcionalidade em seu carrinho desde fevereiro. Numa parte
metálica, ela escreveu com caneta guache o nome “Pix”. A simples
inscrição já indica que a macaibense radicada em Natal já recebe seus
pagamentos através do sistema. Metade das vendas dela é pelo Pix.
“É
algo mais prático, por isso coloquei. Muita gente aqui usa Pix.
Acredito que quase a metade das vendas aqui é pelo Pix. É bom que não
anda com o dinheiro, porque evita de perder, ser assaltado. A prática é
muito boa para nós que trabalhamos na rua”, conta.
Há,
no entanto, quem ainda não sinta o efeito imediato do Pix em suas
vendas. É o caso do vendedor de capinhas e acessórios para celulares
Jorialisson Filgueira, 30 anos, que atua no ramo desde 2018. Para ele,
as vendas em dinheiro seguem sendo a maioria em seu estabelecimento.
“Melhorou
na agilidade, muita gente não gosta de usar dinheiro, o Pix facilitou
muito. Aqui o Pix é razoável. Aqui 60 a 70% é no dinheiro, o restante é
no cartão ou Pix. Uso desde março. A vantagem é que as pessoas não andam
com dinheiro, a agilidade, segurança. A pessoa que não anda com
dinheiro no bolso vai gastar menos, eu acho”, analisa, mostrando a
plaquinha confeccionada com a sua chave no estabelecimento.
Lojas recém abertas já se preocupam com a alta adesão dos
potiguares à funcionalidade e fazem questão de anunciar na porta da loja
bem como oferecer descontos para quem usa o Pix para pagar a vista. É o
caso da loja de roupas e confecções femininas onde trabalha o vendedor
Carlos Henrique Amorim, 25 anos.
“Normalmente
as pessoas que usam cartão de débito usam pix, é o mesmo público. Achei
que o pessoal mais velho não iria aderir, mas não. Está sendo a mesma
coisa. Estimo que entre 20 a 30% das nossas vendas são Pix. Pagamento em
espécie e em Pix damos um desconto melhor, para influenciar o cliente a
pagar dessa forma”, diz.
“Pix é seguro”, afirma especialista
Tendo
uma facilidade e praticidade cada vez maior, a plataforma Pix trouxe
uma série de questionamentos e dúvidas quanto à segurança. Afinal, com
dois ou três cliques no celular, em qualquer lugar do mundo, bastando
apenas uma conexão com a internet, é possível fazer transações
financeiras dos mais variados valores. Mesmo com a simplicidade,
cuidados básicos são essenciais na hora de evitar fraudes.
Para
o professor Itamir de Morais Barroca Filho, doutor em ciência da
computação e com especialidades em sistemas de computação e em redes de
computadores, a plataforma desenvolvida pelo Banco Central é “segura” e
os usuários podem promover transações financeiras sem receio. A dica
principal, segundo ele, é a checagem na hora da transferência.
“Quando
fazemos uma transação via Pix, é sempre importante termos certeza que a
chave é daquela pessoa e o processo de confirmação é muito importante.
Se estou transferindo para João, é João quem tem que receber”, explica.
Com
a possibilidade de se criar chaves por meio do CPF, email ou celular,
práticas mais comuns, por exemplo, especialistas alertam para os
cuidados na hora de passar a chave Pix para estranhos. Uma das opções é
utilizar a função “copia e cola”, por exemplo. Na avaliação de Itamir
Barroca, professor da UFRN, não há problema em utilizar o CPF para criar
uma das chaves.
“Como hoje temos vários bancos
e essas chaves são exclusivas, muitas vezes vai precisar o CPF ou
e-mail. Tem gente que tem outra preferência. Apesar de ser um dado
sensível, não vai gerar problemas. Muitas empresas e profissionais que
trabalham no ramo de serviços usam pix como forma de não ter risco de
confusão, troca de número. Porque a informação da chave é validada. O
CPF, às vezes, garante que não vai ter um erro”, completa.
Ranking
PIX entre 2020 e 2021 no Norte-Nordeste
BA R$ 68.455.219.481,45
PE R$ 44.551.037.441,77
CE R$ 41.288.866.194,20
PA R$ 34.664.003.196,74
MA R$ 22.321.436.704,92
AM R$ 21.916.735.428,10
RN R$ 18.558.077.548,67
PB R$ 15.852.625.652,72
RO R$ 12.376.025.736,38
PI R$ 10.793.653.587,23
TO R$ 10.332.474.090,87
AL R$ 10.271.062.113,27
SE R$ 9.323.965.617,62
AP R$ 3.783.560.724,73
AC R$ 3.486.869.091,30
RR R$ 3.402.144.685,48
Fonte: Banco Central
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