Não foi dessa vez. O Oscar de melhor documentário em 2020 foi para "Indústria Americana" (produzido pelo casal Barack e Michelle Obama), desbancando "Democracia em Vertigem", da diretora mineira Petra Costa.
Caso vencesse, esta seria a primeira vez que o Brasil levaria o Oscar na categoria de documentário.
Além de "Democracia em Vertigem", "Indústria Americana" desbancou
títulos como os sírios "For Sama" e "The Cave" e "Honeyland", da
Macedônia.
"Indústria Americana" narra a chegada de uma fábrica chinesa e de
seus operários super obedientes a uma cidade do interior dos Estados
Unidos. Em seu discurso, a diretora Julia Reichert ressaltou a coragem
das colegas indicadas e exaltou o gênero por trazer histórias de lugares
tão diversos quanto o Brasil e a Macedônia. "Trabalhadores do mundo,
uni-vos!", conclamou a cineasta.
No Twitter, Petra ecoou o discurso da colega. "Que os trabalhadores
do mundo possam se unir, como disseram Karl e Julia Reichert, de
'Indústria Americana', escreveu.
"Indústria Americana" já havia abocanhado diversos prêmios no
circuito de festivais, incluindo o de melhor direção no Festival de
Sundance e o de filme independente no Gotham Awards.
Petra Costa usou vermelho no tapete
De vermelho no tapete vermelho da premiação,
Petra ressaltou que a "cura do Brasil depende do voto de cada um". "Eu
acredito que isso não é da alma brasileira, a gente consegue lidar com
as diferenças, mas esse ódio não faz parte da nossa natureza. A cura do
Brasil depende do voto de cada um. Não aguento mais gente falando que
política é tudo igual. Esse é o segredo para continuarmos perpetuando
desigualdades. O voto de cada um importa. A gente tem que barrar esse
avanço do fundamentalismo", afirmou.
Indicação cercada de polêmicas
A indicação ao maior prêmio do cinema mundial veio cercada de
polêmica num Brasil extremamente polarizado por questões políticas. Só
nesta semana, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da
República (SECOM), por meio de suas redes sociais oficiais, posts em que
Petra foi chamada de "militante anti-Brasil", que estaria "difamando a
imagem do país no exterior". As mensagens foram publicadas em português e
em inglês.
O apresentador Pedro Bial também causou polêmica ao criticar "Democracia em Vertigem",
distribuído mundialmente pela Netflix. "É um filme de uma menina
dizendo para a mamãe dela que fez tudo direitinho, que ela está ali
cumprindo as ordens e a inspiração de mamãe, somos da esquerda, somos
bons, não fizemos nada, não temos que fazer autocrítica. Foram os maus
do mercado, essa gente feia, homens brancos, que nos machucaram e nos
tiraram do poder, porque o PT sempre foi maravilhoso e Lula é incrível",
reclamou o jornalista, acusado de machismo pela fala.
Crítico de cinema do UOL, Roberto Sadovski posiciona o filme como um dos momentos de brilho do cinema brasileiro em 2019.
"Democracia em Vertigem surge mais como manifesto do que como
documentário. O que é perfeito, já que a diretora, mais do que qualquer
outro cineasta pátrio, traz as credenciais para fazer essa jornada no
tempo e pelos bastidores do poder. Neta dos fundadores da empreiteira
Andrade Gutiérrez, ela faz parte da mesma elite que dá as cartas na
política nacional desde sempre - os "donos do Brasil", confortáveis em
fortunas passadas de geração em geração, onipresentes no agronegócio, em
construtoras, na estrutura financeira do país", analisa ele, em sua crítica.
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