Inca lançou hoje a campanha
Outubro Rosa
O Brasil deve registrar quase 60
mil novos casos de câncer de mama em 2019, e a prevenção a consequências mais
graves dessa doença com o diagnóstico precoce esbarra em desigualdades
regionais e de escolaridade. Ao participar, hoje (7), do lançamento da campanha
Outubro Rosa, do Instituto Nacional de Câncer (Inca), a chefe da Divisão de
Pesquisa Populacional do instituto, Liz Almeida, pediu atenção a essa
disparidade e apresentou dados.
A última Pesquisa Nacional de
Saúde sobre o tema, de 2013, mostra que, entre as brasileiras de 50 a 69 anos,
passa de 80% o percentual das que fizeram mamografia nos últimos dois anos, se
forem levadas em conta apenas as que têm nível superior. Entre as mulheres sem
instrução ou com nível fundamental incompleto, esse percentual cai para cerca
de 50%, e chega a menos de 30% na Região Norte.
"Em cada região precisamos
dar uma atenção diferenciada a questões como grau de informação, qual é a
possibilidade de acessar os exames preventivos e o tratamento. Temos que olhar
de forma desigual para uma situação de desigualdade e tratar essa situação de
forma desigual", explicou a pesquisadora.
Mesmo entre as capitais há grande
desigualdade na busca pela mamografia. Dados de 2018 da pesquisa Vigitel, do
Ministério da Saúde, mostram que em Boa Vista, Rio Branco, Fortaleza e Macapá,
menos de 70% das mulheres de 50 a 69 anos fizeram mamografia nos últimos dois
anos. Já em Salvador, esse percentual chega a 86%, e também superam os 80%
Curitiba, Porto Velho, Palmas, São Paulo Porto Alegre e Vitória.
"O mais importante é prestar
atenção e estudar em cada região quais são os pontos mais críticos, e trazer
essa população para também discutir soluções muito particulares", disse a
pesquisadora. "Não é tirar uma ideia mirabolante da carteira. É ver com a
população quais são as mais prováveis soluções", acrescentou.
Diagnóstico
Quando diagnosticado em seu
estágio inicial, o câncer de mama pode ter mais de 90% de chances de cura, além
de permitir tratamentos menos agressivos e maior possibilidade de preservação
da mama. No ano 2000, 17,3% dos casos eram diagnosticados nos estágios
iniciais, e, em 2015, o percentual subiu para 27,6%.
Apesar dos avanços, permanece um
cenário desigual. Enquanto no Sul e no Sudeste diagnosticam cerca de 30% dos
casos em estágio inicial, no Nordeste somente 12,7% dos casos eram descobertos
precocemente. A campanha lançada hoje pelo Inca destaca que toda mulher precisa
estar atenta à prevenção do câncer. A ação será veiculada em diversas mídias
para reforçar a necessidade do diagnóstico precoce, e todo o material pode ser consultado no site do instituto.
Diagnosticada com câncer de mama
em 2015, Valquíria dos Reis, 51 anos, participou do lançamento e destacou a
importância de tentar manter a autoestima e buscar apoio em outras mulheres que
enfrentam o câncer. Depois da remissão da doença, ela disse que mudou de
profissão de secretária para DJ, adotou um estilo de vida mais saudável e manteve
a participação nos grupos de apoio e redes de solidariedade.
"A alimentação foi a
primeira coisa que eu tive que mudar. Tive que passar a descascar mais e
desembalar menos", disse, sobre o consumo de produtos industrializados. A
DJ aconselhou: "Confie nos médicos. Esqueça pesquisas na internet".
Prevenção
O Ministério da Saúde recomenda
que mulheres com 50 a 69 anos realizem a mamografia de rotina, uma vez a cada
dois anos. Dois terços dos casos são diagnosticados em mulheres com mais de 50
anos, e um terço em mulheres mais jovens, que também devem ficar atentas a
qualquer alteração em seus corpos. É mais difícil detectar o câncer de mama em
mulheres abaixo dos 40 anos por meio de mamografia, já que a densidade dos
seios dificulta a precisão do exame. Diante disso, a recomendação é se
familiarizar com a aparência dos seios e relatar quaisquer alterações ao
médico.
Segundo o Inca, os principais
sinais e sintomas da doença são caroço (nódulo), geralmente endurecido, fixo e
indolor; pele da mama avermelhada ou parecida com casca de laranja, alterações
no bico do peito (mamilo); saída espontânea de líquido de um dos mamilos; e
pequenos nódulos no pescoço ou na região embaixo dos braços (axilas).
Homens
O câncer de mama em homens
representa 1% dos casos, mas eles costumam ser mais agressivos. Segundo o Inca,
em 2017, a doença matou 16,7 mil mulheres e 203 homens no Brasil. Em 2019, a
estimativa do instituto é que 600 novos casos de câncer de mama sejam
diagnosticados em homens.
Uma série de fatores ligados ao
estilo de vida urbano e contemporâneo contribui para que a incidência da doença
esteja em alta no mundo. Se exercitar de três a quatro horas por semana, evitar
a obesidade e moderar o consumo de álcool estão entre os comportamentos que
podem reduzir o risco.
O sedentarismo e a obesidade,
somados ao maior envelhecimento populacional do país, estão entre as razões
para o Rio de Janeiro ser o estado com a maior incidência e também a maior
mortalidade por câncer de mama no Brasil. Segundo Liz, esses problemas de saúde
são mais frequentes na população fluminense.
"O Rio de Janeiro é o
campeão de inatividade física, de obesidade nas mulheres e de, nos momentos
livres, ficar no computador, tablet, celular. Então, não estamos fazendo o
dever de casa".
Por ano, mais de 2 milhões de
casos são descobertos no mundo, e 627 mil mulheres morrem vítimas da doença. Se
os países forem divididos em cinco grupos, de acordo com a incidência de câncer
de mama, o Brasil está no segundo grupo mais afetado pela doença, que é mais incidente
nos países desenvolvidos. Já em relação à mortalidade, o Brasil está no segundo
melhor grupo, com 13 casos de óbito para cada 100 mil mulheres, índice que é
melhor que o de países desenvolvidos como a França e o Reino Unido. "Nosso
sistema de saúde, apesar de todos os problemas, está salvando muitas
vidas", disse a pesquisadora do Inca.
Nenhum comentário :
Postar um comentário