Depois de 100 dias do crime-catástrofe da Vale, na Barragem do Córrego
do Feijão que se rompeu em Brumadinho, região metropolitana de Belo
Horizonte (MG), a contaminação do Rio Paraopeba e o desalojamento dos
moradores seguem sem solução concreta até hoje; os atingidos estão em
hotéis na região enquanto a situação na Justiça não se resolve
No último sábado completou
100 dias desde que a Barragem do Córrego do Feijão, da mineradora Vale,
se rompeu em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte (MG). A
contaminação do Rio Paraopeba e o desalojamento dos moradores são
consequências que seguem sem solução concreta até hoje. Atingidos estão
em hotéis na região enquanto a situação na Justiça se resolve.
O saldo do maior crime ambiental do
Brasil é de 235 mortes confirmadas e 35 pessoas soterradas, de acordo
com o Corpo de Bombeiros. Equipes de resgate continuam atuando
diariamente na busca por desaparecidos com o auxílio de cães
farejadores, drones e aeronaves.
Ao longo destes 100 dias, o crime da
Vale em Brumadinho levantou inúmeras discussões em torno da prática da
mineração no Brasil e do poder das multinacionais mineradoras. Já é o
segundo crime do tipo a acontecer em menos de 4 anos. Em 2015, a
Barragem do Fundão, na cidade de Mariana também em Minas Gerais, se
rompeu, causando mortes e estragos ambientais graves.
Consequências além da questão ambiental
As primeiras vítimas da lama foram
os próprios funcionários, que estavam nas áreas administrativas e no
refeitório da empresa, aos pés da barragem, no momento do rompimento.
Foram mais de 200 funcionários, configurando o crime ambiental também
como o maior acidente de trabalho do Brasil.
Um teor racista também permeia o
crime da Vale e dos rompimentos de barragens de mineração no país. A
conclusão é de um estudo do perfil da população afetada indicando que a
maioria é negra e de baixa renda.
Para o promotor de Justiça, André
Sperling, os rompimentos de barragem não são acidentes. Em entrevista ao
Brasil de Fato, ele afirmou que é padrão das empresas de mineração
atuarem de forma a maximizar os lucros. Para isso, diminuem os custos da
manutenção, compram laudos de segurança e contabilizam o valor das
indenizações caso a situação saia do controle.
"Eles sabiam do risco e queriam
saber quanto isso custava para a empresa. O que eles erraram é que eles
previram, em Brumadinho, a morte de 20 pessoas. E morreram mais de 300",
aponta Sperling.
A Barragem do Córrego do Feijão se
rompeu no dia 25 de janeiro e os rejeitos de lama tóxica atingiram em
cheio o Rio Paraopeba, que foi constatado como morto por conta da
contaminação por manganês, cobre, ferro e cromo, de acordo com relatório
da Fundação SOS Mata Atlântica.
Além disso, por ser um dos afluentes
do Rio São Francisco, um dos mais importantes cursos d'água do Brasil e
da América do Sul, os rejeitos já foram encontrados na região do alto
do Velho Chico, tornando a água imprópria para o uso. Ele nasce em Minas
Gerais, atravessa cinco estados brasileiros e deságua no nordeste.
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