segunda-feira, 6 de maio de 2019

Após 100 dias de crime da Vale, sobreviventes continuam desalojados

Depois de 100 dias do crime-catástrofe da Vale, na Barragem do Córrego do Feijão que se rompeu em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte (MG), a contaminação do Rio Paraopeba e o desalojamento dos moradores seguem sem solução concreta até hoje; os atingidos estão em hotéis na região enquanto a situação na Justiça não se resolve
 Washington Alves/Reuters
No último sábado completou 100 dias desde que a Barragem do Córrego do Feijão, da mineradora Vale, se rompeu em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte (MG). A contaminação do Rio Paraopeba e o desalojamento dos moradores são consequências que seguem sem solução concreta até hoje. Atingidos estão em hotéis na região enquanto a situação na Justiça se resolve.
O saldo do maior crime ambiental do Brasil é de 235 mortes confirmadas e 35 pessoas soterradas, de acordo com o Corpo de Bombeiros. Equipes de resgate continuam atuando diariamente na busca por desaparecidos com o auxílio de cães farejadores, drones e aeronaves.

Ao longo destes 100 dias, o crime da Vale em Brumadinho levantou inúmeras discussões em torno da prática da mineração no Brasil e do poder das multinacionais mineradoras. Já é o segundo crime do tipo a acontecer em menos de 4 anos. Em 2015, a Barragem do Fundão, na cidade de Mariana também em Minas Gerais, se rompeu, causando mortes e estragos ambientais graves.
Consequências além da questão ambiental
As primeiras vítimas da lama foram os próprios funcionários, que estavam nas áreas administrativas e no refeitório da empresa, aos pés da barragem, no momento do rompimento. Foram mais de 200 funcionários, configurando o crime ambiental também como o maior acidente de trabalho do Brasil.
Um teor racista também permeia o crime da Vale e dos rompimentos de barragens de mineração no país. A conclusão é de um estudo do perfil da população afetada indicando que a maioria é negra e de baixa renda.
Para o promotor de Justiça, André Sperling, os rompimentos de barragem não são acidentes. Em entrevista ao Brasil de Fato, ele afirmou que é padrão das empresas de mineração atuarem de forma a maximizar os lucros. Para isso, diminuem os custos da manutenção, compram laudos de segurança e contabilizam o valor das indenizações caso a situação saia do controle.
"Eles sabiam do risco e queriam saber quanto isso custava para a empresa. O que eles erraram é que eles previram, em Brumadinho, a morte de 20 pessoas. E morreram mais de 300", aponta Sperling.
A Barragem do Córrego do Feijão se rompeu no dia 25 de janeiro e os rejeitos de lama tóxica atingiram em cheio o Rio Paraopeba, que foi constatado como morto por conta da contaminação por manganês, cobre, ferro e cromo, de acordo com relatório da Fundação SOS Mata Atlântica.
Além disso, por ser um dos afluentes do Rio São Francisco, um dos mais importantes cursos d'água do Brasil e da América do Sul, os rejeitos já foram encontrados na região do alto do Velho Chico, tornando a água imprópria para o uso. Ele nasce em Minas Gerais, atravessa cinco estados brasileiros e deságua no nordeste.

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