quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Tragédia em Brumadinho: 30 minutos de terror sem alerta

Voluntário que ajudou a salvar pessoas em uma pousada observa os vestígios do desastre
A onda da lama que vazou da barragem 1 da mina Córrego do Feijão, sem alarme, na sexta-feira, 25 de janeiro, levou menos de meia hora para chegar ao último ponto onde pode ter feito vítimas. Essa é a estimativa do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais. A BBC News Brasil também teve acesso ao plano de emergência da mineradora Vale, responsável pelas instalações, que mostra que a previsão era a mesma – 24 minutos até o bairro Parque da Cachoeira, nas imediações do rio Paraopeba.
Segundo os cálculos, a velocidade da lama seria de quase 80 quilômetros por hora ao deixar a barragem e de cerca de 20 ao chegar ao bairro. Foram atingidos, nessa ordem: a área operacional da mina; a área administrativa, onde ficavam escritórios e o refeitório; uma conhecida pousada da região; o bairro Parque da Cachoeira e, finalmente, o rio. Nesse percurso, a lama atingiu também casas, plantações e muitos hectares de mata. Acredita-se que a maior parte das mortes tenha acontecido na área administrativa da mina. Naquele dia, trabalhavam no complexo cerca de 600 pessoas, entre funcionários da Vale e terceirizados, diz a empresa. Quando a espessa onda de lama desaguou no rio Paraopeba, havia percorrido nove quilômetros de vale, soterrando centenas de pessoas pelo caminho. Até a tarde de quarta-feira, 6 de fevereiro, havia 150 mortes confirmadas e 182 pessoas seguiam desaparecidasSeguindo o rastro da avalanche pelos principais pontos atingidos, a BBC News Brasil refaz o trágico percurso dos quase 12 milhões de metros cúbicos de lama pelo relato de sobreviventes. Procurada, a Vale afirmou, em nota, que o plano de emergência foi construído com base em estudos técnicos de cenários hipotéticos para o caso de um rompimento. "Disse ainda que a estrutura tinha todas as declarações de estabilidade aplicáveis e passava por constantes auditorias externas e independentes, além de sistema de vídeo-monitoramento, sistema de alerta através de sirenes e cadastramento da população à jusante." Segundo a empresa, foi realizado o simulado externo de emergência em 16 de junho de 2018, sob coordenação das Defesas Civis e com o apoio da Vale, e o treinamento interno com os funcionários em 23 de outubro de 2018.

Área operacional e de produção da mina do corrégo do Feijão

Quando a barragem se desfez, a lama vazou a uma velocidade de 21,3 metros por segundo, pouco mais de 76 quilômetros por hora. A avalanche atingiu a área operacional em segundos.
Ela fez uma curva e seguiu em direção a onde estava o eletricista José Valério de Jesus, de 49 anos, perto do terminal de carregamento do trem. Funcionário de uma empresa terceirizada, José estava participando da instalação de um equipamento de combate a incêndio.
No final da manhã, perto das 11h, pegou o ônibus da Vale que leva funcionários da área operacional para a área administrativa, onde ficava o refeitório. José almoçou e, ao meio-dia, já estava de volta ao canteiro onde trabalhava.
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47149958

Nenhum comentário :

Postar um comentário