Exatamente um ano se passou desde a maior rebelião registrada dentro do
sistema prisional do Rio Grande do Norte, que resultou no maior massacre
já ocorrido em um presídio potiguar. O dia 14 de janeiro de 2017 foi
marcado pelo início de uma batalha entre facções criminosas na
Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta, que resultou na
morte de 26 detentos, a maioria decapitada e com hemorragia. O Estado
demorou quase duas semanas para retomar a sua maior unidade prisional.
Hoje, Alcaçuz está visivelmente mudada, com pavilhões reformados, limpos
e procedimentos de segurança atualizados. Mas um aspecto não mudou: a
superlotação.
Atualmente, o presídio possui em seus dois blocos ativos 1,1 mil
internos, conforme dados da Secretaria de Estado da Justiça e da
Cidadania (Sejuc). Essa população interna é praticamente o dobro da
capacidade da unidade. Segundo informação constante no Sistema
Geopresídios, mantido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que
monitora mensalmente os presídios do país, Alcaçuz tem capacidade, neste
momento, de 540 presos. O Pavilhão 1 possui, hoje, 680 homens, enquanto
que o 3 está com 420. São entre 10 e 20 internos por cela, diz a Sejuc.
O titular da pasta, Luís Mauro Albuquerque
Araújo, reconhece a superlotação. Mas ele lembra que desde agosto do ano
passado, dez centros de detenção provisória (CDPs) espalhados pelo
estado foram fechados definitivamente por falta de condições estruturais
de permanecerem ativos. Cerca de 900 detentos foram redistribuídos
entre outros presídios, a grande parte foi exatamente para Alcaçuz.
Apesar da superlotação reconhecida, contudo, ele esclarece que os
internos têm uma qualidade de vida melhor do que antes da rebelião.
Ele acrescenta que dificilmente o poder público conseguirá abolir o
excesso de presos nas unidades prisionais. “Superlotação é algo que vai
existir no sistema prisional. Se você for em uma comunidade vai ver
superlotação dentro das casas, uma quantidade de pessoas que parece não
caber em espaços mínimos”, comparou o secretário.
Alcaçuz não parece a mesma, famosa pelas cenas
de selvageria humana registradas por câmeras de vídeo, fotográficas e
os olhos de milhões que assistiram tudo de casa ou in loco. Marcada por
um histórico de fugas de presos, tentativas de fugas e motins, o último
incidente digno de registro dentro da unidade ocorreu há um ano, e foi
exatamente o massacre que vitimou 26 pessoas e resultou na fuga de 56
internos, conforme informação repassada, à época, pelo Governo do
Estado.
O tempo passou, mas o presídio ainda está em
reconstrução. Apenas dois dos quatro blocos que a unidade possuía foram
reformados até o momento e já estão em operação: o 1 e o 3. O Pavilhão 2
também está novo, mas ainda não possui internos por falta de agentes
penitenciários. Esses servidores devem chegar até março. São os
aprovados no último concurso público para agentes penitenciários
realizado pelo Governo, em 2017. A Sejuc confirma ter gasto R$ 3 milhões em reformas, mas ainda
necessitar de pelo menos R$ 7 milhões para acabar de vez a revitalização
da estrutura. Outras edificações, como as guaritas, o bloco de
adaptação, o setor administrativo e a oficina-escola, que funcionará na
antiga fábrica de bolas, ainda sofrerão reparos. O Pavilhão 4, vizinho
ao Presídio Rogério Coutinho Madruga (um anexo de Alcaçuz), está
destruído desde a rebelião e também será reformado, mas não há data para
isso.
O presídio ainda apresenta resquícios da
batalha ocorrida entre membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) e
Sindicato do RN, em janeiro de 2017. Na visita que a TRIBUNA DO NORTE
fez nesta semana, em Alcaçuz, foi possível ver uma pilha de bolas de
futebol murchas, recobertas de fuligem, amontoadas em um ponto da
penitenciária. A fuligem é do fogo que, criado pelos detentos durante os
dias de motim, destruiu a fábrica de bolas que havia no local para a
ocupação de presos.
Próximo dessa pilha, o solo e a vegetação
também estão pretos, devido ao fogo ateado na rebelião. A antiga fábrica
de bolas, que deve se tornar um atualizado espaço de ressocialização
com cursos de capacitação técnica para os presos, é outro ponto que
lembra o conflito passado, com paredes destruídas, marcas e cheiro de
queimado ainda presentes.
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