O fim da crise hídrica não é determinado somente pelo volume de
chuvas em um território. É preciso que as precipitações caiam nos
lugares certos para seguir um caminho até os reservatórios, que o solo
esteja úmido para facilitar o escoamento e que não haja represamento
ilegal dos rios para uso particular da água. No Rio Grande do Norte,
alguns dos maiores reservatórios de água são abastecidos por bacias que
cortam muitos municípios, como o Rio Piranhas-Açu, e tem mais chance de
encher. Mas outros, como o Itans, em Caicó, ficam em bacias menores, e
permanecem secos apesar das boas chuvas.
A dinâmica das precipitações no estado segue no sentido oeste para
leste. O maior reservatório do Rio Grande do Norte, a Barragem Armando
Ribeiro Gonçalves, recebe água do Rio Piranhas-Açu, que nasce na
Paraíba. O abastecimento depende sobretudo da situação do reservatório
de Coremas, também localizado no estado vizinho, que antecede à Armando
Ribeiro e pode limitar a vazão d'água se estiver com volume baixo. Há
uma distância de 260 quilômetros entre os dois reservatórios, que também
pode receber chuvas.
O nível atual da Armando Ribeiro é de 23,1% da capacidade total,
equivalente a 548 milhões de metros cúbicos d'água. A capacidade total é
de 2,3 bilhões de m³. Apenas há dois anos atrás, a barragem chegou a
atingir o volume morto, mas as chuvas de 2019 conseguiram recuperar o
volume.
Outras barragens, importantes para determinadas regiões do Estado,
ficam em bacias menos favoráveis. É o caso do Itans, em Caicó, e Pau dos
Ferros, no Alto Oeste. Ambas estão secas porque as chuvas nas regiões
caíram em outras bacias, que não têm curso d'água para abastecê-las, ou
ainda não tiveram força suficiente até chegar a estes reservatórios.
“Ou o solo está seco demais, e aí as primeiras chuvas são para
umedecer o solo, antes da água correr, ou pequenos reservatórios, que
estão no meio do caminho, ainda estão sendo abastecidos e represando a
água”, explica o hidrógrafo Nelson Fernandes, técnico da Empresa de
Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn/RN).
Somente na bacia Apodi-Mossoró, que abastece a barragem de Pau dos
Ferros, cerca de mil outros reservatórios menores dependem das suas
águas. “É preciso que esses reservatórios encham primeiro para Pau dos
Ferros receber a água”, acrescenta Nelson.
Por causa da situação da barragem, as cidades de São Miguel, Paraná e Rafael Fernandes estão em colapso hídrico. O governo estadual iniciou processo de urgência para a contratação de carros-pipa para o abastecimento dessas cidades. A expectativa é a contratação sair nos próximos 30 dias. Pau dos Ferros continua com o abastecimento d'água graças à adutora de Santa Cruz.
Gargalheiras
Com o volume máximo do Açude Dourado, em Currais Novos, que
transbordou na madrugada desta terça-feira (3), o Açude Gargalheiras, em
Acari, deve ser abastecido com mais força. Localizado na bacia
Piranhas-Açu, o Dourado antecede o Gargalheiras no curso d'água. O
volume atual da barragem de Acari é de 8,41% do total. Ele estava
totalmente seco em dezembro do ano passado.
1. Barragem Armando Ribeiro Gonçalves – Assu, Itajá e São Rafael
Reserva atual: 23,1% (548,1 milhões de m³)
Reserva atual: 23,1% (548,1 milhões de m³)
De onde vem a água: Rio Piancó/Piranhas/Açu, sistema que começa na
Paraíba. As principais contribuições de água vêm dos rios Seridó,
Espinharas e Baião
Onde precisa chover: esses rios passam por cidades como Cajazeiras
(PB), Coremas (PB), Souza (PB), Pombal (PB), São Bento (PB), Paulista
(PB), Patos (PB), São José de Espinharas (PB) e Serra Negra (RN)
2. Barragem de Paus dos Ferros – Pau dos Ferros
Reserva atual: 0% (seco)
Reserva atual: 0% (seco)
De onde vem a água: Rio Apodi/Mossoró, localizado inteiramente no Rio Grande do Norte, e seus afluentes do Alto Oeste potiguar.
Onde precisa chover: em municípios da microrregião da Serra de São
Miguel: Água Nova, Doutor Severiano, Luís Gomes, Encanto, Coronel João
Pessoa, Major Sales, Riacho de Santana, Venha Ver e São Miguel
3. Açude Gargalheiras – Acari
Reserva atual: 8,41% (3,7 milhões de m³)
Reserva atual: 8,41% (3,7 milhões de m³)
De onde vem a água: Rio Picuí, que nasce na Paraíba. Uma das
principais contribuições vem dos riachos Quintuaré, Mochila e Cachorro
Onde precisa chover: Acari (RN), Currais Novos (RN), Frei Martinho (PB), Picuí (PB) e Nova Palmeira (PB)
4. Itans – Caicó
Reserva atual: 0,05% (40,5 mil m³)
Reserva atual: 0,05% (40,5 mil m³)
De onde vem a água: a principal contribuição vem do Rio Barra Nova e
seus afluentes – a maioria deles são riachos da região do Seridó
Onde precisa chover: nos municípios de Santa Luzia e Várzea na Paraíba, e Ouro Branco no RN
5. Sistema Coremas/Mãe Dágua –
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