sábado, 11 de junho de 2016

FEIJÃO CHEGA A R$ 15,00: FIM DA FARTURA NO PRATO

Fonte: Diário de Pernambuco


Lá na casa de seu Amaro, feijão mulatinho ou mesmo o carioca virou comida de luxo. Cinco pessoas viviam de conchas generosas e repetecos. Acabou-se a fartura. “Agora a gente bota para cozinhar cem gramas e divide o caldo por todo mundo”, disse, contando que a iguaria brasileira consta no cardápio da casa dele, no município de Escada, em apenas duas vezes na semana. “Não é brincadeira. Era R$ 6 e foi para R$ 15 na minha cidade”. Feirante há 20 anos, Amaro Pereira tem uma banca instalada na rua dos fundos do Mercado de São José, Centro do Recife, e também ouve reclamações de consumidores. Ele vende feijão verde de quinta-feira a sábado. Comercializado a R$ 10 o quilo, é o item mais caro. Quem vai à feira livre ou ao supermercado tem ficado chocado com o valor cobrado por um quilo do meu, do seu, do feijão nosso de cada dia. Variando de acordo com a localidade, no Recife tem quilo de feijão vendido a R$ 14,00.
Feijão até pouco tempo era salvaguarda. Ocupava lugar do alimento inacessível e preenchia o prato do trabalhador. Agora os preços do feijão têm dado aquela sensação de que, se o Brasil estava ruim, piorou. Nos arredores de seu Amaro, dona Silvana da Conceição Carneiro precisou adaptar o prato que serve no restaurante em que trabalha, o Casa do Arrumadinho.
“Tive de reduzir a porção e colocar mais arroz, macarrão e purê para compensar e manter o preço da refeição”. Cobra R$ 8,00 por um “prato feito”. O preço do prato na vizinhança é tabelado, então aumentar R$ 1 ou mais não seria boa opção porque haveria risco de perda de clientela. Se não diminuísse a porção, diz, ficaria inviável porque o restaurante precisa de 12 quilos de feijão em média para atender à demanda diária. Antes, lembra dona Silvana, gastava R$ 7,00 por um quilo. “Aí esta semana comprei a R$ 12,00. Comprava em grosso num atacadão bem longe, mas não vale mais a pena. Arrumei um fornecedor aqui perto do Mercado de São José e compro por dia por esse preço mesmo”. Na Casa do Arrumadinho, querendo comer mais feijão, o cliente precisa pagar uma porção extra, como quiser o freguês (porção de R$ 2, de R$ 3, R$ 4...). Dona Silvana teme que o preço suba ainda mais: “O revendedor avisou que vai chegar a R$ 25,00 o quilo”.
Dona Silvana diz que a “coisa está tão séria” que o feijão fez festa na internet. Referia-se à inspiração para memes na web, fenômeno que ao pé da letra significa imitação em grego e que tem como objetivo facilitar a viralização de uma informação. Uns brincam dizendo que o quilo está tão caro que feijão passou a ser transportado por carro-forte; outros sugerem que de tão valioso o feijão pode ser dado em caixinhas de joias no Dia dos Namorados. Qual será o teto do preço do feijão é difícil prever, mas a escalada continua, creem técnicos do Instituto Brasileiro de Feijão (Unifeijão). Segundo avaliam, a elevação dos preços tem relação direta com mudanças climáticas que prejudicaram produtores do Centro-Oeste e do Norte de Minas Gerais.
A causa não é algo que chegue até os ouvidos das donas de casa. Para elas, que em sua grande maioria cuidam das compras domésticas e fazem comparativos, o feijão está inserido dentro da crise econômica e política do Brasil. Esta semana, a dona de casa Zezita Aguiar voltou das compras feitas em um supermercado do bairro de Casa Forte impressionada com o quilo do grão, que chegava aos R$ 12,00. A constatação dela foi repassada para amigas até que uma outra dona de casa, Ana Cunha, fez o desabado: “Achei que a crise nunca chegaria ao feijão”. Não só chegou como vem mudando o hábito de compras e alimentação do brasileiro.

Por Sílvia Bessa

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