"Contamos com a solidariedade para que as famílias possam continuar produzindo em paz", diz João Pedro Stédile. Área tem colheita de 510 toneladas de café por ano e 1.200 hectares de lavoura de milho
São Paulo – Um juiz ordenou o despejo de 450 famílias que moram há 20 anos no Quilombo Campo Grande, na cidade de Campo do Meio (MG). A propriedade é altamente produtiva.
Por ano, por exemplo, são 510 toneladas de café. De acordo com a
decisão, os moradores têm até terça-feira (13) para deixar suas casas
que já contam com estrutura como rede elétrica instalada. Se a situação
não for revertida, isso representará a destruição de 520 hectares de
café, 1.200 hectares de milho e 40 hectares de lavoura.
O local era uma usina de cana-de-açúcar que faliu, deixando uma
dívida muito superior ao valor do terreno. A arbitrariedade da decisão
está sendo questionada até mesmo pelo Ministério Público de Minas
Gerais. “A área é de uma usina que deve mais de R$ 300 milhões para os
cofres públicos. Ela vale uns R$ 90 milhões. A maioria das famílias que
ocuparam o local são, inclusive, ex-trabalhadores da usina”, afirma o
líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro
Stédile.
O MST mobilizou advogados para tentar garantir a continuidade da produção
que movimenta a economia local e existe um abaixo-assinado de
comerciantes da região pedindo que as famílias permaneçam ali. “Um juiz
da vara agrária que mora em Belo Horizonte, a mando de não sei quem,
resolve dar uma ação de despejo. Isso é um absurdo, uma vergonha”,
continua Stédile. Na decisão, o juiz Walter Zwicker Esbaille autoriza o
uso da força para a desocupação, com a presença de tropas de choque.
“As famílias têm casas, luz elétrica e escola. Não podem aceitar
isso. Nossa causa é justa. Tem que ter alguma coisa por trás, não pode
ser só esse clima de conservadorismo que leva um juiz a decretar o
despejo dessas famílias que estão lá há mais de 20 anos”, completa.
Em nota, o MST argumenta que, se o motivo for apenas a criminalização
da luta por terra no país, fruto de um movimento de extrema-direita que
levou à presidência Jair Bolsonaro (PSL), haverá resistência. “É sabido
que a veia fascista do projeto eleito ao governo do Brasil vai
intensificar o uso da máquina do Estado para criminalizar e segregar o
povo sem-terra, assim como fará nas comunidades urbanas. Mas o povo
brasileiro é corajoso e forte. O MST enfrentou a ditadura militar desde o
nascimento. É com essa história e essa coragem que as famílias do
Quilombo Campo Grande irão resistir.”
Por fim, Stédile manda um recado para as famílias e para a sociedade.
“Vamos tomar as medidas cabíveis na Justiça, no Tribunal. Vamos
denunciar no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Estamos apelando. Nos
ajude a impedir isso, que poderá ser uma tragédia (…) Contamos com a
solidariedade para que as famílias possam continuar produzindo em paz.
Não percam a esperança, não desanimem e não tenham medo. A Justiça
verdadeira está do nosso lado.”
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