terça-feira, 17 de julho de 2018

Entregue as traças - RN fecha 465 leitos em oito anos

Em oito anos, o Rio Grande do Norte fechou 465 leitos hospitalares, a maioria deles (391) na área da pediatria. A informação foi divulgada pelo Conselho Federal de Medicina, em uma pesquisa que abrangeu todos os estados e capitais brasileiras, de 2010 a 2018. A queda, no entanto, ficou restrita aos leitos do Sistema Único de Saúde (SUS). Os leitos “não-SUS”, como classifica o relatório, da rede particular, tiveram uma variação positiva, com 255 novos leitos criados ao longo deste período. Nacionalmente, os dados preocupam os especialistas: os 160 milhões de brasileiros que dependem exclusivamente do SUS perderam 10% dos leitos públicos desde 2010 (34,2 mil), ao passo em que as redes suplementar e particular aumentaram em 9% (12 mil) o número de unidades no mesmo período.
O Rio Grande do Norte segue a tendência nacional de fechamento de leitos. Em oito anos, 22 estados e 18 capitais brasileiras perderam leitos de internação
O Rio Grande do Norte segue a tendência nacional: 22 estados e 18 capitais brasileiras perderam leitos ao longo dos últimos anos. Em estados como Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo, foram perdidos, respectivamente, 9.569 e 7.325 leitos. Os únicos estados que apresentaram uma evolução positiva nos índices foram Rondônia, com 629 leitos criados, Mato Grosso, com 473, Tocantins, com 231, Roraima, com 199 e o Amapá, com 103 novos leitos ao longo deste período.
“Esses números são preocupantes, porque mostram a contradição entre o discurso e a prática do que vem sendo colocado principalmente pelo Governo Federal, que afirma que os leitos estão sendo fechados porque as pessoas estão optando por atendimento domiciliar. Se qualquer pessoa conhece o mínimo da realidade do sistema de saúde pública brasileiro, sabe que a quantidade de atendimentos domiciliares é mínima”, afirma Jeancarlo Cavalcanti, vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte.
Em Natal, apesar de novos leitos terem sido criados graças à inauguração do Hospital Municipal, o saldo total ao longo deste período também foi negativo, com menos 189 leitos. Na prática, isso não necessariamente significa que os hospitais públicos fecharam leitos, mas também que hospitais privados, que antes atendiam pacientes do SUS, podem ter tido leitos descredenciados do sistema.
De fato, enquanto os leitos SUS caíram na capital potiguar, os leitos não-SUS aumentaram em 254. Em termos de Estado, a situação é similar: 465 leitos a menos pelo SUS e 255 novos leitos não-SUS. “Isso mostra uma falta de compromisso principalmente com o paciente que está mais vulnerável e que depende do sistema de saúde público para ser atendido”, explica Jeancarlo Cavalcanti.
Nas Unidades de Pronto-Atendimento (UPA) da capital, porta de entrada para a maior parte dos pacientes na cidade, a falta de leitos acaba sobrecarregando a capacidade de muitas unidades. Na UPA de Potengi, na zona Norte da capital, por exemplo, os profissionais do setor de enfermagem afirmam ser comum que pacientes sejam tratados integralmente na Unidade por falta de leitos nos hospitais.
A função da UPA, de acordo com eles, é fazer o acolhimento inicial e internações de, no máximo, 24 horas. O normal, no entanto, é que os pacientes cheguem e, por falta de locais para serem encaminhados, passem três ou quatro dias na Unidade, impedindo que outras pessoas possam ser internadas, levando em consideração principalmente o número inferior de leitos disponíveis nas UPAs em relação aos hospitais.
“Outro problema é que grande parte desses leitos fechados estão no interior. A não interiorização dos serviços de saúde acaba causando um caos na capital, porque pessoas vêm para Natal para se tratarem de coisas básicas, que deveriam ser resolvidas em seus próprios municípios”, afirma Jeancarlo. A Tribuna do Norte, na manhã desta segunda-feira (16), visitou o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, em Natal, para averiguar a situação do principal hospital do Estado. A Secretaria do Estado de Saúde Pública, no entanto, negou o acesso da equipe de reportagem ao interior do prédio.
Números
465 é o total de leitos de internação fechados no Estado entre 2010 e 2018, segundo dados do Conselho Federal de Medicina
391 foi a quantidade de leitos pediátricos fechados no RN
10% dos leitos públicos foram fechados no Brasil desde 2010

Publicado originalmente na Tribuna do Norte

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