domingo, 26 de novembro de 2017

Vendas de fim de ano ameaçadas pelos atrasos salariais

Ricardo Araújo

Repórter

O atraso no pagamento do funcionalismo público no Rio Grande do Norte poderá represar a circulação de, pelo menos, R$ 1 bilhão no comércio varejista neste último bimestre de 2017. Na contramão do empresariado de outros estados brasileiros, oxigenado pela redução dos juros, queda da inflação e aumento do índice de confiança do consumidor no cenário nacional, os empresários locais temem queda acentuada nas vendas neste fim de ano, aumento da inadimplência e enfraquecimento da atividade econômica, visto que, os servidores públicos lotados no estado respondem por um terço da massa de rendimento em circulação.
 

Com menos dinheiro, servidores públicos deverão reduzir gastos; massa de rendimento deles movimenta 1/3 da economia potiguar
Somente os trabalhadores da ativa fazem circular na economia R$ 600 milhões mensais em salários. Responsável pela emissão do maior volume de recursos, o Governo do Estado conta com parte da folha de pagamento dos servidores de outubro em aberto e ainda não anunciou datas para quitação de novembro, dezembro e décimo terceiro salário da maioria dos trabalhadores, conforme levantamento do economista José Aldemir Freire. “O volume de recursos represado hoje é três vezes maior do que tivemos no mesmo período do ano passado. O cenário é tenebroso. Se não tiver dinheiro extra, a única saída é a ajuda federal”, advertiu o economista.
Com menos dinheiro em circulação, a expectativa é que as vendas deste ano mantenham os mesmos patamares registrados em 2015. Ao final daquele ano, o comércio varejista potiguar faturou R$ 17,5 bilhões. Mensalmente, o volume de vendas gira em torno de R$ 1,5 bilhão e, em dezembro, subia para R$ 1,7 bilhão. Se o estado não estivesse mergulhado na atual crise econômica, que desemboca no atraso do pagamento do funcionalismo público, o total faturado pelas empresas poderia chegar a R$ 3 bilhões, de acordo com Aldemir Freire. “Seria o estimado para este último bimestre de 2017 se os pagamentos estivessem em dia”, disse.

Temor
Os representantes das entidades ligadas ao comércio varejista no estado estão apreensivos. “A economia do Rio Grande do Norte tem uma dependência razoável quanto aos funcionários públicos. A gente sabe que o Governo do Estado está fazendo um esforço extraordinário, as Prefeituras Municipais também, mas a gente sabe que teria um impacto positivo se conseguisse colocar esse décimo terceiro até a data. Se isso não acontecer, não dá para medir esse impacto. Mas, com certeza, fará falta nas vendas de final de ano. Se o pagamento ocorrer, ajuda a economia a voltar ao normal”, declarou Augusto Vaz, presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Natal (CDL/Natal).
De acordo com Marcelo Queiroz, presidente da Federação do Comércio de Bens Serviços e Turismo do Rio Grande do Norte (Fecomércio/RN), o País está “vivendo um momento de retomada da atividade econômica” e o comércio “está prevendo um final de ano menos nebuloso que o de 2016”. Entretanto, “em um estado que tem grande dependência da massa salarial dos servidores públicos (que representam cerca de um terço dos salários pagos no Estado, aí incluindo o mercado formal e o informal), não há dúvidas de que o atraso no pagamento desta categoria de trabalhadores poderá impactar muito negativamente neste nosso otimismo. Quando recebe com atraso, o servidor vê o seu poder de compra drasticamente reduzido. E grande prejudicado com isso é o comércio de bens e serviços”, afirmou.
Conforme análise do economia Aldemir Freire, o impacto maior do atual caos econômico vivenciado entre os servidores públicos do Rio Grande do Norte se refletirá nos números que serão tabulados no primeiro trimestre do próximo ano. “As vendas, a movimentação financeira do fim do ano são analisadas no primeiro trimestre do ano seguinte. Se a situação continuar como está, esses números não serão bons”, afirmou. Ele destacou, ainda, que o rendimento anual das famílias que dependem dos salários pagos pelo Estado e Prefeituras Municipais tende a cair este ano. “Dificilmente, essas famílias terão dinheiro para compras extras e terão medo de usar o cartão de crédito. Eu não vejo como a economia não sofrer impactos”, declarou.
Reflexos na economia
Veja abaixo, conforme análise do economia Aldemir Freire, como a crise fiscal estadual e municipal está refletindo na economia potiguar. “O estado tem em torno de 213 mil servidores públicos e isso nas três esferas de governo, Estadual, Municipal e Federal, o que equivale a 16,5% da força de trabalho das pessoas ocupadas do Rio Grande do Norte, de um total de 1 milhão de trabalhadores. O percentual de servidores é maior que a média do Brasil e do Nordeste.
O servidor público tem um peso maior no mercado de trabalho do RN do que tem no Brasil e região Nordeste, onde 12,5% e 14,5%, respectivamente, estão ocupadas. O peso servidor também forte quando comparamos os salários médios, que são maiores do que os dos demais o peso da massa de rendimento é maior até do que os 16,5%. Se nos perguntarmos qual a folha de rendimento de todas os trabalhadores, dá R$ 2 bilhões, se eu pego só os servidores, isso é de R$ 662 milhões de reais, ou seja, quase 35% da massa de rendimento vem do funcionalismo. E pode ser mais do que isso, porque se eu pego os quase 575 mil aposentados, todo mês paga R$ 626 milhões, se eu somo o salário dos servidores mais os aposentados, tenho quase R$ 1,3 bilhão, o que é mais da metade do total, isso sem contar com os aposentados do Estado”.
Números
R$ 1 bilhão
é o volume estimado de recursos que poderão ficar represados por causa dos atrasos
R$420 mil é o valor mensal da folha de pagamento somente do funcionalismo estadual
R$ 1,2 bi é o valor que o Estado precisa para quitar as folhas de novembro, dezembro e décimo

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