quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Número de homicídios supera população de Viçosa

Este ano, a média diária tem sido de seis homicídios, a maioria deles em cidades próximas a Natal
O mês de setembro de 2017 foi o mais violento já registrado na história do Rio Grande do Norte, com 228 homicídios, de acordo com levantamento do Observatório Letal Intencional do RN (OBVIO). O número ultrapassa agosto, com 226 mortes e o mais violento até então. No total, 1.875 assassinatos ocorreram no Estado em 273 dias do ano – uma média de seis por dia. A quantidade de mortos já ultrapassa a população total do município de Viçosa, o menor do RN, com 1.618 habitantes, de acordo com o último Censo Demográfico do IBGE, de 2010.

“Verdadeiras populações estão sendo dizimadas”, avalia o coordenador do OBVIO e especialista em segurança pública, Ivênio Hermes. “Nós vimos isso em outros anos. Este ano, piorou”, completa.

A estimativa traçada pelo coordenador prevê que o RN terá pelo menos 2.200 homicídios até o fim deste ano. A quantidade é maior que a população de quatro municípios potiguares. No entanto, caso a média de seis mortes por dia se mantenha, 2017 fecha com 2.575 assassinatos, o que representa a superioridade em relação ao número de habitantes de oito cidades do RN. “Nós observamos uma mudança este ano. Historicamente, outubro é o mês mais violento, mas este ano tivemos agosto e setembro com o índice altíssimo. Caso a escalada continue, teremos um outubro mais sangrento”, afirma.


A marca de setembro significa aumento de 41,6% em relação ao mesmo período de 2016 (161 mortes) e 74% maior do que 2015, quando 131 pessoas foram assassinadas naquele mês. A elevação acompanha o registro dos outros meses em 2017. Este ano, somente junho teve menos crimes do que em 2016 – dois a menos (173 contra 175). No geral, os homicídios cresceram 27,5%. Até o fim de setembro de 2016, 1.417 haviam sido mortas.

O que explica a escalada da violência, para Ivênio, é a ausência de políticas públicas efetivas que trabalhem com a prevenção ao crime. “Hoje, o Estado só trabalha com políticas de respostas. Não há contraponto as ações ostensivas porque as instituições de segurança estão defasadas. Falta investimento que possibilitem investigação, por exemplo, e o Estado acaba sendo ausente”.

Já a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesed) justifica os números de homicídios em setembro ao acirramento das disputas entre facções criminosas. Ainda de acordo com a Sesed, as operações feitas pela Polícia Militar e Civil causou o enfraquecimento dos grupos, o que aumentou a tensão entre eles. “Esse desmantelamento das organizações fez com que aumentasse a disputa de espaço entre eles, gerando assim uma elevação na quantidade de homicídios, em alguns casos com várias mortes em um mesmo local”, afirma por meio de nota.

“Esse grupos também estão matando na tentativa de chamar atenção da população, em razão da frequente presença policial nestas comunidades. Mas nós não deixaremos de realizar as operações e também investigaremos todos os casos de homicídios que estão acontecendo. Continuaremos o nosso trabalho", declara a secretária de Segurança, Sheila Freitas. O Governo do Rio Grande do Norte também afirma que as estatísticas do OBVIO não diferem de maneira significativa dos oficiais – estes deverão ser lançados até o fim de semana.

O coordenador do OBVIO, no entanto, avalia que ter as facções criminosas como protagonistas da falta de segurança do Rio Grande do Norte explicita a ineficácia do estado. “É preciso analisar de modo mais profundo. O Governo é minimalista quando diz que a causa da violência é o acirramento das facções. O problema está antes disso. Está em deixá-los tomar o poder. Hoje, são as facções que mandam onde o Estado é ausente, impondo muitas vezes a lei do silêncio. Isso tudo aprofunda o problema das políticas públicas nessas áreas”, declara.

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