Via Isto é Dinheiro
Conheça a história de Joesley Batista, o empresário que abalou a República, e saiba como ele construiu o maior império global de proteína animal
“Em Goiás, quando tá ruim, tá bom”. A frase é do empresário Joesley
Batista, dita à DINHEIRO em uma conversa informal há cerca de cinco
anos. O aforismo, analisado sob à luz dos atuais acontecimentos, é quase
que uma síntese da situação na qual o Brasil se meteu depois que o dono
do frigorífico JBS gravou o presidente Michel Temer em uma conversa
comprometedora, no Palácio Jaburu, a residência oficial. Joesley, para
usar uma imagem rural, fez um movimento brusco que ajudou a estourar a
boiada e, após fazer delação premiada, deixou o País rumo a Nova York,
onde pretende morar. Seu paradeiro, no momento, é desconhecido.
O Brasil, por sua vez, foi atropelado pelos bois da JBS e mergulhou
em uma grave crise política que abala os alicerces do governo de Temer e
está provocando uma paralisia parlamentar que prejudica os esforços
empreendidos até agora para a retomada econômica. Em resumo: está ruim
para o País, mas está bom para esse goiano de 45 anos, que construiu ao
lado de seus irmãos, Wesley Batista e José Batista Júnior (o Júnior do
Friboi), a maior empresa de carnes do mundo e a maior companhia privada
brasileira, com um faturamento de R$ 170,4 bilhões em 2016.
A delação da JBS surpreendeu a todos por diversos motivos. Por um
lado, o teor dos depoimentos de sete delatores mostram a gigantesca rede
de influência parlamentar da companhia. Essa teia política irrigada com
recursos ilegais os ajudou a conseguir empréstimos e financiamentos de
fundos de pensão e bancos públicos, como o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal,
donos de 26,24% da JBS (leia matéria aqui).
O ex-diretor de relações institucionais da JBS, Ricardo Saud, um dos
delatores, disse ter pago propina a 1.829 políticos eleitos de 28 siglas
partidárias – quase a totalidade das 35 agremiações políticas
registradas. Nos últimos anos, a empresa teria desembolsado R$ 400
milhões em propinas a políticos, de acordo com Joesley. Em 2014, a JBS
doou legalmente R$ 366,8 milhões. Um levantamento realizado pelo jornal O
Estado de S. Paulo mostrou que esse dinheiro ajudou a eleger um em cada
três deputados e senadores (confira infográfico “Navalha na carne”).
O acordo fechado com a Procuradoria-Geral da República (PGR), por
outro lado, foi considerado espantoso, por garantir privilégios inéditos
a Joesley e Wesley Batista. Ele foi chamado de “delação megapremiada”, o
que tem feito alguns ministros do Supremo Tribunal Federal cogitar a
revisão de alguns termos do acordo. Os irmãos, por exemplo, não serão
presos ou usarão tornozeleira eletrônica. Seus termos preveem ainda que a
dupla não será afastada de suas funções executivas em suas empresas e
terá ainda o direito de morar nos Estados Unidos. Os Batista, assim como
outros cinco delatores, pagarão uma multa de R$ 225 milhões em dez
anos, uma ninharia se comparada ao patrimônio da família. Segundo
declarações do Imposto de Renda de pessoas físicas, entregues à PGR, os
donos da JBS lucraram R$ 163 milhões em 2016. “Eles sempre foram bom
negociadores”, diz uma fonte que conhece os irmãos. “Parece que souberam
negociar bem sua delação.”
Os irmãos Batista, de fato, são exímios negociadores. Foi na base da
conversa, com seu sotaque caipira de Goiás, em que a concordância verbal
e o plural de algumas palavras não são uma prioridade, que eles
construíram um império empresarial. É claro que os bilhões do BNDES e de
fundos de pensão ajudaram bastante a erguer o conglomerado. A J&F,
holding da família, é dona, além da JBS, da fabricante de celulose
Eldorado, das empresas de calçados Alpargatas, de laticínios Vigor e de
higiene e limpeza Flora, além do Banco Original (leia matéria aqui).
Tudo começou em 1953, quando o patriarca José Batista Sobrinho criou
uma pequena casa de carnes em Anápolis, em Goiás. Anos depois, Zé
Mineiro, como ele é conhecido, foi para Brasília, onde passou a vender
carnes para as empreiteiras que construíram a capital federal no governo
de Juscelino Kubitschek no fim dos anos 1950.
Joesley passou sua adolescência em Brasília, para onde a família se
mudou no fim dos anos 1960. Não era muito chegado aos estudos e dava
muito trabalho à Flora, sua mãe. Aos 12 anos, ao contrário de muitos
garotos de sua idade, ele resolveu se virar. E não foi na empresa de seu
pai. Joesley chegou a trabalhar em lojas de sapatos, de computador, de
autopeças e em um hotel. Nessa época, resolveu investir em seu primeiro
negócio, usando seus conhecimentos de tecnologia: montou uma escola de
informática. Aos 16 anos, seu pai o levou para trabalhar na empresa da
família. O primeiro cargo foi o de gerente de um frigorífico com 130
funcionários. Aos 17 anos, já era diretor geral. “Desde cedo tinha
vontade de ser alguém na vida”, disse Joesley, em entrevista de 2013,
quando foi escolhido o Empreendedor do Ano pela revista DINHEIRO. O
prêmio foi concedido em razão da compra da Seara, um negócio de quase R$
6 bilhões, que dava musculatura para a JBS competir em produtos
processados com a BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, no mercado
brasileiro.
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