terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Massacre de Alcaçuz faz um mês com incertezas sobre número de mortes e fugas

Corpos ainda sem identificação, novo muro, superlotação e promessa de desativação, comunidade assustada e famílias em busca de justiça. A rebelião mais violenta da história do Rio Grande do Norte completa um mês nesta terça-feira (14) com muitas perguntas sem respostas. O governo ainda não sabe quantos morreram ou fugiram, mas foram pelo menos 26 assassinatos e 56 fugas. Relembre como a rebelião começou, e saiba o que o estado tem feito para evitar que o horror se repita.
Penitenciária Estadual de Alcaçuz, Rio Grande do Norte. Sábado, 14 de janeiro de 2017, dia de visita social aos internos. Por volta das 15h (horário de Natal), os presos do pavilhão 4, ligados ao Sindicato do Crime do RN, observavam “algo estranho” pelos “big brothers” – pequenos buracos escavados na parede que dão visão ao pavilhão 5, onde estavam detentos de uma facção rival, o Primeiro Comando da Capital (PCC). Os inimigos andavam livremente, alguns com arma de fogo nas mãos, coletes à prova de bala e até bombas de efeito moral. Quase todos cobriam os rostos com camisas.

Diante da ameaça iminente, alguns internos do pavilhão 4 decidiram subir no telhado. Minutos depois, o pavilhão 5 estava “virado”, ou dominado pelos presos, na linguagem deles. Os detentos já tinham invadido a sala da direção da unidade e o quarto onde os agentes guardavam armas. Mantendo alguns familiares como escudos, eles conseguiram se aproximar do portão que separa os dois pavilhões e, logo em seguida, invadiram a área rival. Iniciou-se aí a maior e mais violenta rebelião da história do sistema prisional potiguar. Pelo menos 26 presos que estavam no pavilhão 4 e que não conseguiram subir no telhado, foram mortos no pátio. Quinze deles foram decapitados. Outros foram esquartejados ou tiveram os corpos mutilados. A penitenciária tinha capacidade para 620 detentos, mas estava com cerca de 1.150. 


Um mês depois da matança, a briga entre as facções PCC e Sindicato do Crime (ligado ao Comando Vermelho e FDN), que disputam o domínio das unidades prisionais e o controle do tráfico de drogas no estado, ainda surte efeitos. Após a repercussão internacional do caso, a maior penitenciária do RN passa por uma série de reformas emergenciais e paliativas. Isso porque o governador Robinson Faria (PSD) já anunciou: Alcaçuz será desativada ainda este ano. Nesta sábado (11), a visitação foi retomada.


As causas da rebelião estão sendo apuradas. O secretário de Justiça e Cidadania (Sejuc), Wallber Virgolino, diz que “sistema penitenciário é sinônimo de tensão”. “As pessoas apontam vários fatores, mas sabemos que a falta de efetivo, a falta de estrutura do presídio e o crescimento das facções criminosas contribuem para isso. Trabalhamos apurando se houve facilitação. Se existiu, essas pessoas serão punidas”, afirma.

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