Fonte: http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br
Secretário de segurança diz que população pode ficar tranquila
Espantosa época essa que o Brasil atravessa. Uma época em que o
horror adquire doce naturalidade. As facções criminosas promovem
massacres em série nas penitenciárias do país. E poucos brasileiros
parecem dispostos a fazer a concessão de uma surpresa. É matança de
bandidos? Pois que venha o extermínio. E com decapitações.
Depois
da mortandade de presos em Manaus e Boa Vista, sobreveio, entre a tarde
de sábado e a madrugada deste domingo, a chacina da Penitenciária
Estadual de Alcaçuz,
na região metropolitana de Natal. De um lado uma franquia potiguar do
paulista Primeiro Comando da Capital (PCC). Do outro, o Sindicato do
Crime do RN, que opera em regime de joint venture com o carioca Comando Vermelho (CV).
Em
duas semanas, três massacres. Mais de uma centena de execuções. Os
criminosos superaram os anseios de Bruno Júlio, aquele ex-auxiliar de
Michel Temer que perdeu a chefia da Secretaria Nacional de Juventude
depois de lamentar a baixa produtividade da usina de auto-extermínio que
funciona nas cadeias: “Tinha é que matar mais”, ele disse. “Tinha que
fazer uma chacina por semana.”
A contabilidade dos horrores de
Natal ainda é desconhecida. Na noite passada, o governo estadual admitiu
em nota a existência de dez cadáveres. Entretanto, vídeo pendurado na
internet indicava a existência de pelo menos 17 corpos. Não foi possível
concluir a escrituração porque o poder público estadual, impotente,
decidiu que só entraria na cadeia depois do nascer do Sol.
Caio
César, secretário de Segurança do governo do Rio Grande do Norte
apressou-se em divulgar um vídeo para tranquilzar a população (assista
abaixo). “Não houve fuga”, disse o secretário a certa altura. “A
população pode ficar tranquila e realizar suas atividades normalmente.” O
que a autoridade máxima da segurança no Estado disse aos cidadãos de
bem, com outras palavras, foi o seguinte: “Fiquem calmos. A cadeia está
cercada. Lá dentro, os bandidos estão se matando uns aos outros. Nada
que mereça a sua preocupação.”
O Datafolha informou, há três meses, que 57% dos brasileiros concordam com a máxima segundo a qual “bandido bom é bandido morto.”
Quer dizer: as facções criminosas não estão senão satisfazendo a
vontade da maioria. Produzem novos carandirus sem a participação da
Polícia Militar. É como se as facções unissem o útil ao agradável.
Defendem seus territórios e seus negócios. Simultaneamente, atendem à
demanda social por sangue.
Nesse contexto, só os chatos, com seu
humanismo arcaico, ainda pedem providências e punições. Só os ingênuos,
com seu horror postiço, ousam manter o ponto de exclamação entre seus
hábitos. Atentas ao sonho da sociedade brasileira de avançar rumo à
Idade Média, as facções criminosas já não querem só comida. A bandidagem
também quer diversão e arte. A falência do Estado dá ao criminoso condições para oferecer ao país seu vernissage semanal de cadáveres sem cabeça.
Nenhum comentário :
Postar um comentário