Nos últimos 12 anos, o Piauí reelegeu um governador,
foi governado quatro anos por outro e voltou a eleger o anterior para o
terceiro mandato.
O presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, deputado Marcelo Nilo Foto de: Christophe Simon/AFP |
Durante esse tempo, a Assembleia Legislativa do Estado só teve um presidente, que vai ficar ao menos mais dois anos no cargo.
Enquanto a Câmara dos Deputados discute a
constitucionalidade da reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidentes
de Assembleias nos Estados acumulam mandatos sucessivos de dois anos.
No Piauí, Themístocles Filho (PMDB) bateu um recorde
histórico: é o mais longevo desde a retomada das atividades das
Assembleias após o Estado Novo, que terminou em 1945.
Em Pernambuco e na Bahia, Guilherme Uchoa (PDT) e
Marcelo Nilo (PSL), respectivamente, já completaram dez anos no cargo
–Uchoa já foi reeleito para o biênio 2017-2018 e Nilo concorre a mais um
mandato em fevereiro.
Os três têm um histórico de proximidade com o Executivo e de atuação em benefício dos pares.
Themístocles se tornou presidente em 2005, no
primeiro governo de Wellington Dias (PT). Depois, virou adversário do
petista, mas diz que não faz oposição à atual gestão e é próximo ao
governador.
"Nós não criamos obstáculos. Nós não temos uma
oposição. O PMDB vota as matérias de interesse do Piauí", afirmou o
deputado, que não descarta que seu partido venha a assumir cargos no
governo petista.
O cientista político Vitor Sandes, da Universidade
Federal do Piauí, afirma que Themístocles se mantém no cargo por unir o
PMDB e dar governabilidade a governadores com base fraca no interior,
como a atual gestão, do PT, e a anterior, do PSB.
Nilo, da Bahia, ficou conhecido por agradar deputados
da base e da oposição com distribuição de cargos e até de bolsas de
estudo bancadas pela Assembleia. Ele diz que disputar o sexto biênio
consecutivo não estava nos seus planos, mas concorrerá por ser "um
momento de crise".
REGRA DO JOGO
As regras para a reeleição do presidente não são
iguais em todas as Assembleias e são definidas pelas Constituições
estaduais. Em Pernambuco, por exemplo, foi aprovada uma emenda em 2011
que acaba com mais de uma reeleição para o posto.
No entanto, como a regra só passaria a valer na
legislatura atual (2015-2018), Uchoa considerou que a lei não podia
retroagir e deveria entender que seu mandato entre 2015-2016 era o
primeiro e o de 2017-2018, o segundo.
Pareceres do Ministério Público e da Procuradoria da
Assembleia concordam com a interpretação do presidente. Já a OAB entende
de modo diferente e entrou na Justiça para pedir sua saída do cargo.
Juiz de direito aposentado, Uchoa era conhecido como um dos homens fortes do ex-governador Eduardo Campos (PSB), morto em 2014.
Segundo aliados, sua proximidade com o Judiciário e a
defesa que faz dos parlamentares o ajudaram a manter-se no cargo.
Opositores criticam esta atitude e falam em subserviência ao Executivo.
"Ele é uma espécie de presidente do sindicato dos
deputados", diz o deputado estadual Edilson Silva (PSOL). A reportagem
entrou em contato com a assessoria de Uchoa, que não conseguiu localizar
o deputado.
Embora Pernambuco já tenha a legislação que acaba com as reeleições eternas, a Assembleia do Piauí nunca discutiu o assunto.
Na Bahia, um projeto chegou a ser apresentado em
2014, mas não foi votado: "Os próprios deputados que pediram para não
votar", diz Nilo.
Questionado sobre o que acha de limitar o tempo de
mandato do presidente, Themístocles respondeu: "Não precisa. Meus
colegas já sabem que na próxima eleição à presidência não sou candidato.
Já fiz a minha missão".
Nilo também afirma que não vai disputar mais uma vez
depois da eleição para o próximo biênio, em fevereiro. Pela primeira
vez, ele deve enfrentar outro candidato da base do governador Rui Costa
(PT).
"Esta é uma Casa de iguais. Não posso permitir a
perpetuação do presidente no poder em nome de um projeto pessoal", diz o
adversário Ângelo Coronel.
Nenhum comentário :
Postar um comentário