quarta-feira, 22 de junho de 2016

Por onde anda Terezinha de Jesus?



Se a cama de casal entrar, a senhora de cabelos brancos e olhos calmos verdes precisa ficar do lado de fora. O quartinho minúsculo de um antigo pensionato, localizado no bairro do Tirol, há cerca de 20 dias abriga uma das cantoras de maior sucesso da história de Natal, muito embora o leitor não vá encontrá-la no Spotify, tampouco nas banquinhas de CDs piratas da Avenida Rio Branco.

Terezinha de Jesus lançou cinco álbuns entre 1979 e 1983, com contratos fixos pela CBS e depois pela SONY, gravou clipes para o Fantástico, foi apadrinhada por Paulinho da Viola, emprestou sua voz a composições de nomes famosos como Moraes Moreira e Sivuca, fez diversas aparições em programas da época, como o do Chacrinha, mas hoje vive da aposentadoria como autônoma e da renda extra que alcança todo mês sendo vendedora de produtos cosméticos da Natura.


A vida não tem lhe poupado desafios. O mês estava começando quando Terezinha se vestia após o banho em sua casa, no bairro de Areia Preta. Ela ouviu um barulho e correu para ver o que tinha acontecido. Uma parte do morro de terra cedeu com as chuvas e invadiu o quintal, ameaçando inclusive as residências dos vizinhos.

As equipes técnicas da Defesa Civil e da própria Prefeitura Municipal decidiram interditar o imóvel e outras três casas próximas. Aos 64 anos, Terezinha se viu pela primeira vez na vida sem um teto para morar e sem assistência direta do poder público, que não a orientou, segundo ela, sobre as condições necessárias para conceder aluguel social. A obra de reforma nas casas interditadas, porém, será bancada pela prefeitura.

O pensionato em que por enquanto ela reside ouviu falar a partir de uma amiga, e mesmo pagando mais caro pelo novo local do que pelo aluguel da casa de Areia Preta, mudou-se na companhia de sua irmã Odaíres há cerca de duas semanas. Desde então as duas dormem em redes e passam o dia assistindo TV, único objeto da casa antiga que coube nas instalações em que se abrigam agora.

“Ficou tudo na minha casa, onde há riscos de um novo desmoronamento ou mesmo de as pessoas levarem”, lamenta Terezinha, sentada em uma cadeira de plástico, encostada na porta do quartinho de número 15.
Ao menos três vezes na semana, ela vai observar o imóvel e diz que até agora os serviços de reparo não começaram nem na sua casa e nem nas demais. “Não nos deram nenhuma previsão de quando poderíamos voltar, só disseram que seria um serviço muito rápido, mas até agora não começaram”, conta.

Na casa alugada há cerca de seis anos moram ela, a irmã e o marido, atualmente passando o período de desabrigo na casa da ex-mulher. “É complicado. Meu quintal não existe mais e o muro de um dos vizinhos caiu”, reforça Terezinha, com medo do intenso período de chuvas nesta época do ano.

“Eu sempre estou tentando trazer alguma coisa de lá quando vou, mas nada cabe nesse quarto. Fico ansiosa ainda por não saber quando isso vai acabar”, comenta tristonha a cantora que não pisa em um estúdio para gravar um novo álbum desde 1984, quando as portas começaram repentinamente a se fechar para ela.

Questionada pela reportagem, a assessoria de imprensa da prefeitura informou que o assunto em questão deveria ser tratado com a Secretaria Municipal de Habitação, Regularização Fundiária e Projetos Estruturantes, responsável pelo programa de aluguel social e de desapropriações em Natal, mas o titular da pasta, Getúlio Batista, não retornou nossas ligações até o fechamento desta matéria. 

TEREZINHA DO BRASIL

Se o leitor faz parte de uma geração anterior à década de 90 certamente não desconhece o êxito que Terezinha de Jesus ou Tiazinha, como também era conhecida, obteve em âmbito nacional numa época que sequer existia o fenômeno do Facebook para compartilhar vídeos e músicas.

Tudo começou em 1978, quando ela foi uma das cantoras selecionadas no “Projeto Vitrine”, da recém-criada Funarte, gravando um compacto duplo com as primeiras canções da carreira. Natural de Florânia, interior potiguar, ela já considerava o feito como a sua maior vitória até ali.

O compacto duplo foi apenas uma porta para que no ano seguinte, em 1979, gravasse o primeiro LP, sendo agora uma das cantoras do catálogo fixo da gravadora CBS. Nos anos seguintes, a rotina de estúdio só aumentou e ela chegou a lançar outros quatro discos: “Caso de Amor” (1980), “Pra incendiar seu Coração” (1981), “Sotaque” (1982) e “Frágil Força” (1983), já pela SONY, gravadora com a qual manteve contrato até 1984.

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