TEXTO EM HOMENAGEM AO DIA 22 DE MAIO – DIA NACIONAL DO
APICULTOR
POR LIONEL SEGUI GONÇALVES E KÁTIA GRAMACHO.
Professor
Lionel Gonçalves no Seminário Sem Abelhas, Sem Alimentos realizado em março de 2015 no município de
Lagoa Nova
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Uma das profissões mais
polivalentes do mundo é a do apicultor, senão, vejamos: numa assembleia de
apicultores certamente encontraremos, independentemente do sexo, professores,
religiosos, militares, engenheiros, veterinários, biólogos, médicos, dentistas,
filósofos, estudantes, comerciantes, industriais, artistas, economistas,
cientistas, neófitos, etc. – a lista estende-se -, além dos puramente
apicultores e meliponicultores. Todos certamente seduzidos pelas belezas
da natureza e apaixonados pelo meio ambiente, daí a razão de serem apicultores
e meliponicultores: todos arrebatados de admiração e amor pelas abelhas.
HANYUAN, CHINA, 25/03/16 : O agricultor chinês He Guolin, 53, sobe em árvores de pera para polinizar as flores (Photo Kevin Frayer/Getty Images) |
Quanto aos interesses e
objetivos de cada um, podemos dizer que são tão diversos quanto surpreendentes.
Para além do encantamento de criar abelhas, vivenciado por todos, há aqueles
que promovem e vivem do comércio dos extraordinários produtos das abelhas (mel,
cera, geleia real, própolis, veneno, rainhas, enxames), há também quem as
estuda e publica conhecimentos sobre sua biologia, comportamento, etc., há
ainda quem se dedica a usar as colmeias como material didático ímpar na
sensibilização e aproximação do ser humano de sua própria natureza, mobilizando
as pessoas para o bem comum, observando as abelhas como modelo ou exemplo de
organização social bem sucedida; e entre muitos outros amantes e criadores das
abelhas, há aqueles que simplesmente se dedicam ao cuidado das abelhas como um
passatempo, forma de relaxamento, desestresse ou possibilidade de reconexão com
a mãe natureza.
A observação e descrição
do comportamento das abelhas já conferiu o maior e mais importante prêmio
almejado por um cientista, o Prêmio Nobel. Referimo-nos ao Prêmio Nobel de
Medicina e Fisiologia atribuído em 1973 ao cientista austríaco Karl von Frisch,
por 50 anos de estudos dedicados a desvendar a linguagem das abelhas, ou seja,
à dança das abelhas como forma de comunicação.
O amor ou dedicação dos
homens às abelhas é milenar. Há referências na literatura e nas artes, bem como
em documentação histórica, artefatos e até joias, expostos em importantes
museus do mundo, que comprovam a relação harmoniosa entre homens e abelhas
desde as mais antigas civilizações. Estudos de hieróglifos da civilização
egípcias e também de elementos da civilização grega clássica, entre 500 e 300
AEC, comprovam o reconhecimento das abelhas como um símbolo de bem-estar, saúde
e riqueza. A arquitetura europeia também é reveladora do uso de colmeias na
cumeeira da porta de entrada de residências e edifícios públicos, como
demonstração da admiração do homem pela sociedade das abelhas.
Exemplos mais recentes na
História também podem ser flagrados; grandes líderes da humanidade também
elegeram as abelhas como símbolo. Ostentavam-nas em suas bandeiras e escudos
como modelo de organização social, para demonstrar publicamente a seus
seguidores seus princípios e filosofias de vida. Como exemplo, podemos lembrar
o líder religioso, Papa Urbano VIII, que no ano 1623, ao se tornar Papa,
escolheu para seu brasão as abelhas. Pode-se ainda hoje apreciar no Vaticano,
ao adentrar a nave principal da Basílica de São Pedro, as esculturas de abelhas
que adornam a base das quatro colunas e as bandeirolas pendentes no altar
principal, utilizado apenas para os serviços religiosos dos papas. Já no século
XIX, Napoleão Bonaparte, líder político e militar francês, mandou que
incluíssem abelhas em seu brasão militar, e ao se coroar imperador da França,
em 1804, vestia um manto imperial bordado com abelhas, entre muitos outros
exemplos da importância dada pelos homens às abelhas.
Não existe ser vivo com
atuação mais importante na preservação da biodiversidade. Inúmeras espécies
vegetais e, consequentemente, de animais, dependem do serviço de polinização
realizado pelas abelhas. Essa sua função, garantidora da reprodução vegetal,
torna as abelhas as principais responsáveis pela existência de plantas com
flores e frutos (Angiospermas) em áreas verdes, matas e florestas de nosso
planeta. Sua presença é, portanto, decisiva para que essas áreas continuem
proporcionando alimento e boa parte do oxigênio que respiramos.
Assim, para além do
saboroso mel, que nos adoça a vida, e demais produtos apícolas, como a cera, a
geleia real, a própolis, etc., – todos extremamente importantes para o homem -,
cumpre explicitarmos que 70% das culturas agrícolass dependem do serviço de
polinização, e as abelhas são os principais representantes, entre os insetos
que realizam essa tarefa na natureza. Lamentavelmente, porém, a despeito de
todas as benesses graciosamente oferecidas ao homem, as industriosas abelhas
estão desaparecendo da face da terra.
As causas do
desaparecimento de abelhas e de outros polinizadores no planeta são várias. Há
que se considerar diversos fatores e até mesmo a possibilidade de uma ação
conjunta, cabendo citar o desmatamento, o uso inadequado do solo com
monoculturas, as variações climáticas e o uso de pesticidas entre os principais
fatores responsáveis pelo declínio de polinizadores. No que concerne
especificamente às abelhas no Brasil, seu desaparecimento pode ser atribuído,
sobretudo, ao largo e alarmante uso de agrotóxicos. O Brasil, além de ostentar
a má reputação como campeão mundial no uso de agrotóxicos nas lavouras, o faz
com o uso indiscriminado de pesticidas sistêmicos, altamente tóxicos às
abelhas. Os neonicotinoides estão entre os principais causadores da morte
massiva de abelhas.
As notícias de redução das
populações de insetos polinizadores e suas possíveis consequências têm sido
amplamente divulgadas na mídia nacional e internacional. Sabe-se hoje que o declínio
dos polinizadores coloca em risco a produção mundial de alimentos, ou seja, a
segurança alimentar dos seres humanos. A gravidade do tema, recentemente
discutido e rediscutido na Europa e nos Estados Unidos, motivou, em 2015, o
Presidente Barak Obama a determinar uma força-tarefa especial de seu governo em
prol da preservação das abelhas. E dada a relevância da questão, a ONU incluiu
o tema do declínio dos polinizadores em reunião na Malásia, em fevereiro
último, o que resultou em importantes recomendações a todos os países-membros
sobre os cuidados especiais em defesa e proteção dos polinizadores.
Não obstante a essas
recentes iniciativas, a falta de polinizadores já é uma realidade de nossos
dias, fato que pode ser comprovado por reportagem de Casey Williams, divulgada
em 21/5/2016, no Huffington Post da Austrália, sobre uma comunidade na China,
em Hanyuan, Província de Sichuan, cuja população rural, após ter sua população
de abelhas dizimada pelo efeito letal do uso indiscriminado de pesticidas ao longo
de muitos anos, já vem realizando a polinização de árvores frutíferas com as
próprias mãos. A cena de agricultores chineses, pendurados em árvores,
realizando o papel das abelhas na polinização de flores de peras, preocupa-nos
sobremaneira: Seriam os seres humanos capazes mesmo de polinizar todas as
flores de todas as árvores e de todos os campos agrícolas, valendo-se tão
somente do esforço individual e pinceis?
A existência de
“homens-abelha” na China é um sinal sensível dos tempos, e a notícia que vem da
China deve servir de alerta para todo o mundo, pois espelha a realidade futura
a ser enfrentada por todos os países com vocação agrícola. E não há tempo para desalento,
é preciso reagir prontamente ao aviso.
Aos cerca de 300 mil
apicultores e meliponicultores no Brasil, que fazem de nosso país uma das
grandes potências apícolas mundiais, caberá a missão de se unirem pelas
abelhas! No papel de amantes, cuidadores e defensores das abelhas, cumpre-lhes
não apenas a tarefa de proteger as abelhas, mas também a de compartilhar a
consciência que já têm sobre a importância destes insetos para o homem e o meio
ambiente. Reavivam-se nesse momento as palavras do Sr. Gilles Ratia,
ex-Presidente da Apimondia: são eles, os apicultores, verdadeiramente, os
nossos grandes SENTINELAS DO MEIO AMBIENTE. Aos apicultores, nossos sinceros
cumprimentos pelo Dia do Apicultor.
Prof. Dr. Lionel Segui
Gonçalves e Profa. Dra. Katia Peres Gramacho, UFERSA, 22/5/2016.
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